sábado, 19 de janeiro de 2013
O Brasil nunca pertenceu aos índios por Sandra Cavalcanti
O Brasil nunca pertenceu aos índios
Sandra Cavalcanti
Quem quiser se escandalizar, que se escandalize. Quero proclamar, do fundo
da alma, que sinto muito orgulho de ser brasileira. Não posso aceitar a tese
de que nada tenho a comemorar nestes quinhentos anos. Não agüento mais a
impostura dessas suspeitíssimas ONGs estrangeiras, dessa ala atrasada da
CNBB e dessas derrotadas lideranças nacional-socialistas que estão fazendo
surgir no Brasil um inédito sentimento de preconceito racial.
Para começo de conversa, o mundo, naquela manhã de 22 de abril de 1500, era
completamente outro. Quando a poderosa esquadra do almirante português
ancorou naquele imenso território, encontrou silvícolas em plena idade da
pedra lascada. Nenhum deles tinha noção de nação ou país. Não existia o
Brasil.
Os atuais compêndios de história do Brasil informam, sem muita base, que a
população indígena andava por volta de cinco milhões. No correr dos anos
seguintes, segundo os documentos que foram conservados, foram identificadas
mais de duzentos e cinqüenta tribos diferentes. Falando mais de 190 línguas
diferentes. Não eram dialetos de uma mesma língua. Eram idiomas próprios,
que impediam as tribos de se entenderem entre si. Portanto, Cabral não
conquistou um país. Cabral não invadiu uma nação. Cabral apenas descobriu um
pedaço novo do planeta Terra e, em nome do rei, dele tomou posse.
O vocabulário dos atuais compêndios não usa a palavra tribo. Eles adotam a
denominação implantada por dezenas de ONGs que se espalham pela Amazônia,
sustentadas misteriosamente por países europeus. Só se fala em nações
indígenas.
Existe uma intenção solerte e venenosa por trás disso. Segundo alguns
integrantes dessas ONGs, ligados à ONU, essas nações deveriam ter assento
nas assembléias mundiais, de forma independente. Dá para entender, não? É o
olho na nossa Amazônia. Se o Brasil aceitar a idéia de que, dentro dele,
existem outras nações, lá se foi a nossa unidade.
Nos debates da Constituinte de 88, eles bem que tentaram, de forma ardilosa,
fazer a troca das palavras. Mas ninguém estava dormindo de touca e a Carta
Magna ficou com a palavra tribo. Nação, só a brasileira.
De repente, os festejos dos 500 anos do Descobrimento viraram um pedido de
desculpas aos índios. Viraram um ato de guerra. Viraram a invasão de um
país. Viraram a conquista de uma nação. Viraram a perda de uma grande
civilização.
De repente, somos todos levados a ficar constrangidos. Coitadinhos dos
índios! Que maldade! Que absurdo, esse negócio de sair pelos mares,
descobrindo novas terras e novas gentes. Pela visão da CNBB, da CUT, do MST,
dos nacional-socialistas e das ONGs européias, naquela tarde radiosa de
abril teve início uma verdadeira catástrofe.
Um grupo de brancos teve a audácia de atravessar os mares e se instalar por
aqui. Teve e audácia de acreditar que irradiava a fé cristã. Teve a audácia
de querer ensinar a plantar e a colher. Teve a audácia de ensinar que não se
deve fazer churrasco dos seus semelhantes. Teve a audácia de garantir a vida
de aleijados e idosos.
Teve a audácia de ensinar a cantar e a escrever.
Teve a audácia de pregar a paz e a bondade. Teve a audácia de evangelizar.
Mais tarde, vieram os negros. Depois, levas e levas de europeus e orientais.
Graças a eles somos hoje uma nação grande, livre, alegre, aberta para o
mundo, paraíso da mestiçagem. Ninguém, em nosso país pode sofrer
discriminação por motivo de raça ou credo.
Portanto, vamos parar com essa paranóia de discriminar em favor dos índios.
Para o Brasil, o índio é tão brasileiro quanto o negro, o mulato, o branco e
o amarelo. Nas nossas veias correm todos esses sangues. Não somos uma nação
indígena. Somos a nação brasileira.
Não sinto qualquer obrigação de pedir desculpas aos índios, nas festas do
Descobrimento. Muitos índios hoje andam de avião, usam óculos, são donos de
sesmarias, possuem estações de rádio e TV e até COBRAM pedágio para estradas
que passam em suas magníficas reservas. De bigode e celular na mão, eles
negociam madeira no exterior. Esses índios são cidadãos brasileiros, nem
melhores nem piores. Uns são pobres. Outros são ricos. Todos têm, como nós,
os mesmos direitos e deveres. Se começarem a querer ter mais direitos do que
deveres, isso tem que acabar.
O Brasil é nosso. Não é dos índios. Nunca foi.
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