Dizem que a Nação é viúva; e nessas horas eu penso que é também desamparada. São
tantos e tamanhos os absurdos diários que aparecem nos veículos de informação, que já
estamos ficando acostumados. Insensíveis. Quiçá, dopados.
Aparentemente o povo acordou num sobressalto e deu um grito de basta! a toda essa
bandalheira, há alguns meses. Ficou pública e notória a insatisfação da maioria dos
brasileiros com a atual situação. Mas o absurdo é tão grande, que conseguiram diluir e
distorcer os protestos a tal ponto, que tudo pareceu uma arruaça inconsequente. Fizeram
parecer que o objetivo era o quebra-quebra. A mídia, normalmente comprada, escondeu por
longo tempo as verdadeiras reivindicações populares e, quando não pode mais contê-las, fez
parecer tratar-se de uma briga por interesses de classes. Os partidos políticos se
locupletaram gananciosamente da súbita publicidade do evento e mostraram suas bandeiras,
como se fossem os arquitetos do movimento.
Tudo passou, como se fosse uma tempestade. As manifestações recentes já não
chamam mais a atenção. Os estádios da FIFA andam lotados e já não causam mais
indignação. Foi tudo como uma constipação. Aí veio uma grande diarreia, levou tudo.
Acabou.
Quem estava indignado, continua indignado. O acomodado, continua acomodado. E
nada mais . . . parece até A Banda, do Chico Buarque.
Recentemente, um sopro de mudança. Estava no ar um sentimento de transformação.
O Poder Judiciário sinalizava ao país que os desmandos e os descalabros estavam
estertorando, em nome de uma nação mais séria, mais madura. A grande súcia do propalado
mensalão seria, finalmente, penalizada por sua arrojada e duradoura trajetória no
descaminho - o que é muito próprio dos que apostam na impunidade. O Brasil estava por
conhecer uma nova fase: a da responsabilidade e da efetividade das leis. Mensaleiros na
cadeia! Quem dera . . .
Duzentos e tantos anos atrás, um Joaquim fez tremer a nação, que se rebelou contra a
aviltante soberania estrangeira. Pagou com a vida. Mas a Terra de Santa Cruz nunca mais foi
a mesma.
Semana passada, outro Joaquim em cena. Este, nos decepcionou. Deixou prevalecer a
impunidade, em detrimento da justiça. Permitiu que uma alcateia disfarçada banqueteasse
sobre os despojos morais da nação, diante de milhões de brasileiros atônitos e
decepcionados. Demonstrou claramente que esse vértice da república também está
contaminado e inerme para fazer vigorar a ordem. Tampouco, o progresso.
Deram o solene nome de Embargos Infringentes a essa omissão histórica,
perpetrando mais um golpe na terra do Cruzeiro do Sul.
Não há razão para pânico. Não adianta. Não há razão para indignação. Não resolve.
Só resta a vergonha de sermos apontados, mais uma vez, como um dos mais corruptos e
hipócritas países do mundo. Nisso somos bons. Insuperáveis.
A verdade é que o cidadão de bem já não tem mais paciência de esperar pelo dia que
isso irá ter um fim. Tudo tem um limite, e se frigir é o mesmo que fritar, podemos dizer que
nossos bagos estão frigentes de tanto esperar.
Delenda est Carthago!
Frederico, o indignado
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