terça-feira, 29 de outubro de 2013

TRÊS ONTOLOGIAS CLÁSSICAS E A WEB SEMÂNTICA-Marcos Luiz Mucheroni, Daniel C. de Paiva e Marcio Lobo Netto

Resumo
O conceito de ontologias se desenvolveu historicamente acompanhando as diversas áreas do saber, as quais se organizaram em determinadas épocas do pensamento humano. Assim, fazer uma análise pormenorizada das ontologias de cada época e relacioná-las ao pensamento é fundamental para o entendimento da dinâmica do próprio conhecimento. Além disto, este estudo visa auxiliar na elaboração das ontologias atuais a partir das relações existentes em determinadas áreas de domínio, sendo possível a ampliação até a análise de áreas temáticas para a web semântica. O objetivo deste trabalho é conceituar três grandes sistemas de ontologias (Aristóteles, Jacob Lorhard e Leibniz- Wolff) e estabelecer a relação destes com a evolução das ontologias e os conceitos da Web semântica atuais.

Palavras-chave: Ontologias clássicas. Web semântica. Ontologias atuais. PontodeAcesso, Salvador, v. 3, n. 2, p. 281-298, dez. 2009.

1 INTRODUÇÃO
Na filosofia clássica o termo ontologia foi empregado como referente ao conhecer o
que era o ser, mas o ser em geral, tanto a sua razão como o seu logos e assim estreitamente
relacionado à lógica, enquanto o sentido ôntico ligado ao ente deve ser pensado como o ser
de fato e, portanto, não necessariamente ligado ao logos.
É necessária esta compreensão porque evita a confusão entre realidade ontológica e
realidade ôntica. Embora inseparáveis na ordem do ser, são distintas na determinação
filosóficas e esclarecedoras nas ontologias atuais.
É importante ainda saber que aceitar esta terminologia não implica a aceitação do
pensamento kantiano, que afirma que o sujeito pode conhecer a priori unicamente os
fenômenos, “como aparecem”, mas não as coisas em si, ou seja, em linguagem kantiana, os
noumenos. A partir disto, neste trabalho busca-se auxiliar estudos que procuram visualizar e
compreender teoricamente as modernas ontologias.
Curiosamente é tanto moderna quanto escolástica, pois também para ela havia tal
distinção, e as com sideravam como: ôntico significa o ente ainda não está descoberto pelo
espírito como intelligibile in potentia, ou seja, que será conhecido de alguma forma,
enquanto o ontológico, por sua vez refere-se aos entes já esclarecidos, descobertos e
organizados, ou seja, o intellectum in actu, ou seja, o que é já lógico, e pode ser explicitado
como tal.
Na atualidade, os estudos que procuram desenvolver relações conceituais de diversas
naturezas e temas, mas que ainda não são claras deveriam ser ônticas e não ontológicas,
enquanto aquelas que já possuem algum consenso dentro de determinado domínio, podem
ser colocadas em determinada ontologia e por isto formal.
A compreensão de domínio é, pois importante, porque pode estender o campo de
análise do estritamente conceitual para o social. Conforme definição (HJØRLAND, 2004, p.
4): “[…] pode ser uma disciplina, um campo escolar. Pode ser ainda uma comunidade
discursiva conectada a um partido político, à religião, ao comércio, ou a um lazer”, ou seja,
uma comunidade discursiva pode ser uma rede social.
Esta abordagem, de acordo com Hjørland (2002), enfatiza uma relação entre a Web
semântica e as comunidades discursivas com objetivo de tratar recursos informacionais
como sendo identificados, descritos, organizados e disseminados para servirem a um
objetivo específico, sendo compatível com a Web em ambiente social. Este trabalho tem
como objetivo explorar características desse universo, desenvolvendo ontologias históricas,
e a partir de análise de sua importância, indicar que tipos de ontologias podem se estruturar
a partir da Web atual.
Para o desenvolvimento das ontologias que serão apresentadas neste artigo foi
escolhido o ambiente Protégé (2009), pois este possui código aberto, é multiplataforma,
oferece interface gráfica e uma arquitetura para a criação de ferramentas baseadas em
conhecimento. Sua arquitetura é modular e permite a inserção de novos recursos (plugins).
Além disto, possui alguns exemplos que podem ser consultados pelo usuário, permite a
geração de saídas gráficas diversas (diagramas de vários tipos) e está em constante
desenvolvimento como pode ser verificado no site da ferramenta.
[...]

Figura 1 – A ontologia aristotélica usando a ferramenta Protégé-Fonte: ARISTÓTELES, 1978.

Figura 2 – A ontologia de Jacob Lorhard (1606) construída no ambiente Protégé-Fonte: LORHARD, 1606.


Figura 3 - O modelo “conceitual” de Leibniz-Wolff no ambiente Protégé-Fonte: WOLFF, 1729.


Figura 4 - O modelo “epistêmico” de Leibniz-Wolff no ambiente Protégé-Fonte: WOLFF, 1729.

5 OS MODELOS ATUAIS E A WEB SEMÂNTICA
Os modelos elaborados na computação, com os quais se pode perfeitamente ser
traçado um paralelo com a ontologia clássica de Aristóteles/Platão, em Ciência da
Computação, usando método dedutivo, são denominados top-down, ou usando o método
indutivo, bottom-up.
O método indutivo possibilita a elaboração de modelos, partindo, da representação
de elementos e/ou objetos e suas relações dentro de um contexto, ou seja, um
conhecimento estabelecido. Já o método dedutivo propõe que se pense primeiramente no
domínio ou contexto, independentemente de pensar os elementos e suas relações, o que
então é feito numa etapa seguinte.
Será exatamente o método da teoria da classificação (RANGANATHAN, 1967)
denominado faceta, que usa o método dedutivo para classificar o conhecimento dentro de
um domínio, que permitirá compreender a relação com a Web semântica, pois trabalham
metaníveis conceituais, categorias e não apenas abstrações. Como ontologias
computacionais partem de classes de conceitos pode-se elaborar um domínio no modelo
chamado top-down?
O modelo de Ranganathan é importante porque supera a tradicional dicotomia, cuja
ilustração mais tradicional é a “árvore de Porfírio”, porém Ranganathan apoiou-se na
“árvore baniana” cujo modelo ficou conhecido como policotômico.
Toda análise inicial filosófica serve aqui apenas para compreender que o modelo que
se fundamenta exclusivamente na abstração tem como raiz as ontologias.
Por outro lado é apenas uma forma de abstracionismo fruto da própria dualidade
sujeito/objeto, da qual têm origem tantas outras formas dicotômicas na construção de
modelos conceituais.
É o caso da orientação a objetos em Ciência da Computação, que usa atributos e
classes. As classes aqui usam os métodos indutivos, que podem criar abstrações úteis para
um determinado modelo, mas será apenas, a partir da dedução, possível compreender e
estruturar unidades de conhecimentos, e não da indução a partir de unidades de dados.
Assim os métodos não podem ser pensados de forma separada, embora possam ser
pensados de forma sistêmica, a partir do processo indutivo, seguido do dedutivo, no qual se
estrutura a análise e a síntese, mas devem ser pensados como processo conjunto, no qual a
indução parte da análise de domínio e a dedução são propiciadas pela facilidade que inclui o
uso de recursos e processos computacionais.
No desenvolvimento de agentes e processos de inteligência artificial, na construção
de ontologia formal, alguns autores tais como Guarino (1998) criam objetos ou particulares,
que podem ser classificados como concretos e abstratos.
A ontologia formal não possui uma classificação específica para o relacionamento
entre categorias, por isso é possível criar relações muitas vezes não ontológicas “clássicas”
porém formais e claramente dedutíveis e passíveis de sínteses.
O ponto essencial para permitir a formalização em ontologias é compreender um
objeto ocorrente, conforme o chamam diversas teorias (DAHLBERG, 1978; WUESTER, 1981)
e outras. Para isto pode-se utilizar o conceito de Sowa (2000) que chama este objeto de
processo, o que torna explícito que se trata de uma “ação” sobre objetos existentes e
formais. Porém isto não significa ignorar a construção ontológica de cada objeto.
A relação entre estes objetos ainda está ainda em pleno desenvolvimento através de
linguagens de ontologias (Ontologies Web Language - OWL) e o incipiente processo na
criação de agentes inteligentes (BERNERS-LEE; HENDLER, LASSILA, 2001).
A interoperabilidade semântica, também conceituada como interoperabilidade de
metadados, desenvolve a descrição dos recursos de informação para facilitar o intercâmbio
e a recuperação da informação por parte do usuário. Nesse processo faz-se uso de um
conjunto de ferramentas para a representação da informação contida nos recursos,
incluindo ambientes de construção de ontologias e metalinguagens.
A ontologia, inserida nessa tipologia de interoperabilidade, define os termos e suas
relações em domínios, usando regras de combinação desses termos e relações.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ainda que o termo ontologia tenha se referido a conceitos e processos diferenciados
ao longo da história do pensamento humano, três conclusões são possíveis sobre a sua
essencialidade: as relações entre conceitos gerais e particulares, o auxílio às formulações
sobre o que são as coisas em-si, sejam elas: seres, substâncias ou simplesmente conceitos, e,
sua relação com a organização e o desenvolvimento do conhecimento em geral, em especial
na contemporaneidade, onde os grandes sistemas parecem não ter mais a consistência e a
complexidade dos sistemas que aumentam constantemente.
Tanto as ontologias clássicas como as formais decorrentes do uso da lógica e de que
forma os sistemas computacionais podem cooperar neste processo.
PontodeAcesso, Salvador, v. 3, n. 2, p. 281-298, dez. 2009.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

PRINCÍPIOS DA GOVERNANÇA NA GESTÃO DO EXÉRCITO por Cel Novaes (EPEx)

Os conceitos de Governança derivam da Teoria da Agência, definida como um contrato no qual uma ou mais pessoas (o principal) emprega outra pessoa (o agente) para executar, em seu nome, um serviço que implique a delegação de algum poder de decisão ao agente. Os problemas de agência surgem, então, da relação entre proprietário e agente.
Outro conceito importante é o do Perigo Moral, segundo o qual há uma propensão, por parte do indivíduo, a expor um bem a um risco que não será assumido por ele, em caso de ocorrer. Visando a mitigar esses riscos é que companhias de seguro, por exemplo, cobram franquia em caso de sinistro. Voltando à Teoria da Agência, e segundo Eisenhardt (1989), pode haver conflito entre os interesses do acionista (principal) e o executivo (gestor ou agente) em função de riscos, assumidos pelo agente, que poderão causar perdas somente ao principal. Esses riscos serão agravados pela dificuldade de o acionista monitorar diuturnamente as atividades do executivo (assimetria de informações).
Governança Corporativa (GC), segundo o Código das Melhores Práticas divulgado pelo Instituto Brasileiro de GC, é o sistema pelo qual as organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre proprietários (acionistas), Conselho de Administração, Diretoria e órgãos de controle, e seus princípios são:
1. Transparência – é a garantia de disponibilização de informações pela Diretoria e Conselhos, relevantes para a tomada de decisão do acionista.
2. Equidade – é o tratamento justo e igualitário a todas as partes interessadas.
3. Accountability – é a prestação de contas pelo agente aos acionistas, por meio de relatórios e resultados, que devem ser divulgados na sua integralidade e submetidos ao escrutínio das partes interessadas.
4. Responsabilidade Corporativa – é o culto à sustentabilidade organizacional. Toda decisão, ainda que baseada na expectativa de criação de valor ao acionista no curto prazo, deve garantir a longevidade da organização.
Na prática, a GC se dá por meio de órgãos de controle dos agentes, instituídos pelos acionistas, que são o Conselho de Administração (CA) e o Conselho Fiscal (CF). O CA tem a responsabilidade precípua pela orientação geral dos negócios da companhia (principalmente por meio do estabelecimento de metas, no escopo da estratégia da organização), eleição e destituição a qualquer tempo dos diretores, escolher e destituir os auditores independentes, manifestar-se sobre os relatórios da companhia e as contas dos diretores etc. Ele é a interconexão entre a propriedade e a gestão, o guardião do objeto social e seu principal papel é orientar e fiscalizar as atividades da administração da organização no sentido de sempre promover os interesses dos acionistas, mitigando riscos para todas as partes interessadas, em particular ao principal, reduzindo o Perigo Moral.
Dentre as atribuições do conselho fiscal, as mais importantes são: fiscalização dos atos dos administradores e verificação do cumprimento de suas obrigações legais e estatutárias, opinar e proferir parecer sobre o relatório anual da administração, analisar as demonstrações contábeis periódicas etc.
O maior objetivo da GC é que a organização gere valor. Imaginar que esse valor é somente para o acionista é simplificar demais a visão, posto que este só receberá sua parte do valor após terem sido “descontadas” a porção da diretoria (incluindo os custos para incentivar e controlar o agente), produção (funcionários e fornecedores), Governo (impostos) e credores (os que aportaram o capital). E, logicamente, tudo isso só ocorrerá se os clientes atribuírem valor ao que foi entregue.
No setor público, segundo Magalhães (2011), a questão da governança também se apoia em conceitos da Teoria da Agência. Embora o agente deva tomar decisões em benefício do principal que, neste caso, é a sociedade, muitas vezes ocorrem situações em que os interesses dos dois são conflitantes, dando margem a um comportamento oportunista por parte do agente.
O Ministério do Planejamento, em seu site, define governança pública (GP) como o sistema que assegura, às partes interessadas pertinentes, o governo estratégico das organizações públicas e o efetivo monitoramento da alta administração. A relação entre a coisa pública e a gestão se dá por meio de práticas de medição, tais como auditorias independentes e unidades de controle interno e externo (grifos nossos), instrumentos fundamentais para o exercício do controle. A GP assegura às partes interessadas a equidade, a transparência e a responsabilidade pelos resultados, com obediência aos princípios constitucionais e às políticas de consequência.
Também nesse escopo, somando mais elementos à GP, a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), em vigor desde maio de 2000, estabeleceu a exigência de planejamento, prevenção de riscos, transparência, equilíbrio das contas e cumprimento de metas (grifos nossos).
Segundo a Constituição Federal de 1988, o titular do controle externo em nosso ordenamento jurídico é o Congresso Nacional (Art. 31, 70 e 71, caput), que se dá pelo controle político e financeiro da Administração Pública. O controle financeiro, que nos interessa neste trabalho, é exercido com auxílio do Tribunal de Contas da União (TCU).
Nesse contexto, o TCU, em cumprimento à sua missão institucional, avalia o desempenho dos órgãos e entidades jurisdicionados, assim como dos sistemas, programas, projetos e atividades governamentais, quanto aos aspectos de economicidade , eficácia , eficiência e efetividade dos atos praticados, com vistas a contribuir para o aperfeiçoamento da administração pública e para subsidiar os mecanismos de responsabilização por desempenho (Magalhães, 2011) (grifos nossos). Cumpre, dessa forma, parte das atribuições de um CA e do CF, no caso da GC.
Segundo o TCU, uma das principais ferramentas utilizadas para a fiscalização é a Auditoria Operacional, que é o exame independente e objetivo da economicidade (a), eficiência (b), eficácia (c) e efetividade (d) de organizações, programas (projetos) e atividades governamentais, com as finalidades de promover o aperfeiçoamento da gestão pública e fornecer à sociedade opinião independente sobre o desempenho da atividade pública (TCU, 2013). O TCU escolhe os objetos a serem fiscalizados que, além da capacidade de agregar valor à gestão, têm que possuir materialidade, relevância, e vulnerabilidade. A auditoria vai identificar os principais fatores que comprometem o desempenho do programa/órgão, de acordo com o diagrama a seguir:

Diagrama de Insumo/Produto (TCU, 2013)

O relatório da fiscalização é amplamente discutido com órgãos de controle interno, entidades da sociedade civil, academia e consultorias legislativas do Congresso e, posteriormente, submetido à Corte do Tribunal. A etapa de divulgação do relatório tem a finalidade de ampliar o conhecimento da sociedade sobre os resultados das ações avaliadas, contribuindo para aumentar a efetividade do controle, por meio da mobilização da comunidade no acompanhamento e na apreciação dos objetivos, da implementação e dos resultados das políticas públicas. Para aumentar a probabilidade de resolução dos problemas identificados durante a auditoria, seja pela implementação das deliberações do TCU ou pela adoção de outras de medidas de iniciativa do gestor, realiza-se o monitoramento, mediante o acompanhamento de um plano de ação, apresentado pelo gestor ao TCU, que formaliza as ações que serão tomadas para atender as deliberações (TCU, 2013).
Comparando os princípios de GC com aspectos previstos na Constituição, na LRF e na missão do TCU, além de compulsar a literatura existente, pode-se concluir que alguns princípios da GC, fundamentais para o alinhamento de interesse entre o principal e o agente, também são aplicados na gestão pública. Para dar um pouco de materialidade a isso, passa-se a estudar o caso da fiscalização do TCU ao Projeto Estratégico do Exército (PEE) Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras – Projeto SISFRON, orçado em doze bilhões de reais, com período de implantação previsto de dez anos.
Baseado na teoria sobre GC, os aspectos que comporão a fiscalização do TCU, iniciada por meio da Portaria de Fiscalização/Fase de Planejamento no 887, de 14/07/13, e constantes do Ofício de Requisição no 1-887/2013, de 17/07/13, serão organizados nos seguintes tópicos: problemas de agência e transparência/accountability.

Problemas de Agência
Aspectos fiscalizados pelo TCU
1. Posicionamento do SISFRON no âmbito da Política Nacional de Defesa (PND), Estratégia Nacional de Defesa (END), Livro Branco, Plano Estratégico de Fronteiras e Planejamento Estratégico do Exército.
2. Contexto orçamentário: programas e ações abrangidas no PPA e na LOA.
3. Estudo de Viabilidade realizado.
4. Diretrizes de offset.
5. Requisitos operacionais e especificações técnicas.
6. Projeto básico.
7. Principais benefícios para a sociedade (principal), bem como resultados para a gestão pública.
8. Relação dos materiais que serão importados e desenvolvidos pela indústria nacional.
9. Licitações e contratos já realizados.
10. Metodologia de gerenciamento de projetos ( Gestão de riscos, aquisições, premissas, linhas de base, EAP...)
11. Projeto-piloto e experimentação técnica do projeto.

Transparência e Accountability
Objetivos
1. Como são definidos objetivos.
2. Como é assegurada a conquista dos objetivos no interesse do principal.
Aspectos fiscalizados pelo TCU
1. Auditorias realizadas sobre o andamento do projeto.
2. Plano de Gestão de Riscos e Planejamento das Respostas.
3. Informações registradas no Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento (SIOP).
Objetivos
De que maneira a organização presta contas à sociedade.


Algumas considerações adicionais sobre a Governança Pública no âmbito do Exército:
1. As ações referentes aos problemas de agência na GP são reativas, posto que o Exército possui autonomia administrativa e financeira e, com isso, tem a prerrogativa de definir seus próprios objetivos, ainda que o faça baseado em sua interpretação da PND, END, Livro Branco de Defesa Nacional (LBDN) e diretrizes recebidas do MD e do Governo em geral. No momento da auditoria em curso do TCU, por exemplo, o PEE SISFRON já se encontra em plena execução. No caso da GC, a definição da estratégia, objetivos e metas é atribuição do CA, e isso se dá previamente à ação da diretoria. O controle também é mais cerrado, posto que o CA tem a responsabilidade de acompanhar mais de perto os resultados em nome dos acionistas, enquanto que o TCU escolhe as ações que vai fiscalizar discricionariamente (também acolhe denúncias da sociedade em geral, diretamente ou por intermédio do Congresso).
2. Na GC, o CA não existe somente para monitorar. Também reduz o conflito de interesses por meio de incentivos financeiros (pagamento de bônus, por exemplo) à diretoria na materialização dos objetivos e no cumprimento de metas, além de ser encarregado de eleger e demitir diretores, enquanto que a GP somente pode aplicar punições e multas aos gestores que contrariarem aspectos de eficácia, eficiência, efetividade e economicidade (e outras irregulares e ilegalidades).
3. A accountability no sistema público é centrada no ordenador de despesas e no agente diretor, compartilhada com demais agentes da administração que compõem o rol dos responsáveis. Essas autoridades têm a obrigação de demonstrar que administrou ou controlou os recursos que lhe foram confiados em conformidade com os termos segundo os quais esses recursos lhe foram entregues. Também há prestação de contas anual.
4. O agente é quem fornece a maioria dos dados ao principal, logo, há uma assimetria de informação. Isso é minimizado pela Lei de Acesso à Informação, que preconiza que o paradigma é a transparência, e a exceção, a classificação da informação, além do SIOP, de portais de transparência e da obrigação do agente de justificar todos seus atos para a sociedade. A exigência da gestão de riscos (ISO 31000:2009) e sua transparência também contribui para disponibilizar informações.
5. Por último, busca-se o alinhamento de interesses por meio da exigência que as organizações definam e comuniquem seus planejamentos estratégicos (mantendo, logicamente, o nível de sigilo exigido por assuntos de Defesa), em particular a missão e a visão, os objetivos organizacionais, indicadores, metas e os projetos. A gestão de riscos e a medição do desempenho operacional vão agregar qualidade à GP e provocar o incremento de uma cultura de transparência e accountability na administração pública.
Concluindo, pode-se dizer que, tecnicamente, não há Governança Corporativa nos órgãos públicos, devido à inexistência de um CA específico para cada organização, mas muitos de seus princípios podem e devem ser aplicados na chamada Governança Pública. Também nesta área, o maior objetivo das organizações continua sendo o de entregar valor ao principal, neste caso, à sociedade. Na ausência de um CA, o maior representante do principal será o TCU, que conduzirá seu trabalho por meio de auditorias. No caso do Exército Brasileiro, que conta com capital intelectual dedicado exclusivamente para o planejamento estratégico, gestão orçamentária e gerência de portfólios e de projetos estratégicos, julga-se que os principais pré-requisitos para a governança existem. Resta às partes interessadas confirmar se, na fase de execução, isso é efetivo. É a intenção dessa Instituição entregar valor à sociedade por meio do cumprimento de sua missão e continuar sua transformação rumo à visão de futuro com economicidade, eficácia, eficiência e efetividade. Para tal, a Auditoria Operacional do TCU no PEE SISFRON, ora em sua fase de planejamento, poderá validar e/ou apontar oportunidades para o aperfeiçoamento da gestão deste e dos demais projetos, além de todo o sistema de planejamento estratégico.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Ministério do Planejamento. “MP Wiki”. Disponível em . Acessado em 03/08/13.
EISENHARDT, K. Agency Theory: An Assessment and Review. Academy of Management Review, 1989, Vol, 14. N 1, Pgs 57 a 74.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA. “Código das Melhores Práticas”. Disponível em . Acessado em 06/08/13.
MAGALHÃES, Renata Silva Pugas. “Governança em Organizações Públicas – Desafios para Entender os Fatores Críticos de Sucesso: o Caso do Tribunal de Contas da União”. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2011.
ROSA, Eugênio. “Princípio da Economicidade”, Direito Legal. Disponível em . Acessado em 04/08/13.
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO. “Avaliação de Programas de Governo”. Disponível em . Acessado em 04/08/13.

Notas:
(a) O princípio da economicidade vem expressamente previsto no art. 70 da CF/88 e representa, em síntese, a promoção de resultados esperados com o menor custo possível. É a união da qualidade, celeridade e menor custo na prestação do serviço ou no trato com os bens públicos. É, também, a capacidade da contratação em resolver problemas e necessidades reais do contratante.
(b) Relação entre os objetivos e os resultados obtidos por um processo, projeto, sistema ou organização. A eficácia é atingida quando os produtos são alcançados conforme o planejamento.
(c) Relação entre os recursos empregados e os resultados obtidos por um processo, projeto, sistema ou organização. A eficiência é alcançada quando os insumos são manipulados de forma adequada para atingir os produtos.
(d) É o impacto trazido pelo resultado obtido por decisões. Difere da eficácia, pois esta apenas indica se o objetivo planejado foi atingido, enquanto efetividade relaciona-se com os resultados obtidos no emprego do produto ou na prestação do serviço, decorrentes do projeto, sendo traduzida pelo impacto causado pela ação adotada.

sábado, 5 de outubro de 2013

ONTOLOGIA E WEB SEMÂNTICA: O ESPAÇO DA PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

Carlos Henrique Marcondes1 marcon@vm.uff.br
Maria Luiza de Almeida Campos2 marialuizalmeida@gmail.com

RESUMO
Discute o atual projeto Web Semântica, em especial as ontologias, a partir de uma trajetória r retrospectiva que remota à invenção do computador e da sua influência no imaginário da sociedade contemporânea como uma máquina dotada de inteligência. As tendências, limitações e desafios atuais do projeto e dessa visão, segundo diferentes autores, são apresentados e discutidos. São identificadas possíveis áreas de atuação para a Ciência da Informação, em especial para a construção de ontologias, a partir sua trajetória de pesquisa em áreas como organização/modelização de domínios de conhecimento e processamento semântico de informações por computadores.
Palavras-chave: Web semântica: Ontologia; Pesquisa em Ciência da Informação: Modelização de domínios de conhecimento: Processamento semântico de informações.
[...]
Conclusões
Existem vários caminhos para endereçar as questões colocadas aqui para o desenvolvimento de ontologias. Por um lado, se poderia caminhar-se para uma padronização das linguagens para representá-las, como o OWL. Outro caminho seria referenciar ontologias umas às outras, complementando-as, e cada ontologia específica à ontologias chamadas de alto nível, contendo conceitos mais genéricos e consensuais,com é explicitamente a proposta da Suggested Upper Merged Ontology (SUMO), http://www.ontologyportal.org/, ou de propostas como Basic Formal Ontology (BFO), http://www.ifomis.org/bfo, Cyc, http://www.cycfoundation.org/, WordNet - a lexical database for the English language -, http://wordnet.princeton.edu/.
Poder-se-ia ainda fazer todo um trabalho de informação no sentido de sistematizar e montar registros e bibliotecas de ontologias, prevendo sua padronização, a não duplicação de esforços, seu re-uso.
Uma outra linha de intervenção seria trabalhar em metodologias para o desenvolvimento de ontologias, uma área de pesquisa muito significativa, também conhecida como “ontology engeneering” (DEYEDZIC, 2002). Sendo o esqueleto básico de uma ontologia é uma taxonomia, Smith (2001) traça uma linha evolutiva desde simples vocabulários controlados até ontologias formais processáveis por programas, que incluem regras lógicas para restringir o significado de relações e propriedades.
Nesse aspecto a Ciência da Informação tem uma contribuição significativa a dar.
A pesquisa em ontologia hoje recoloca velhos problemas para as práticas de gestão de conhecimentos que vêem sendo utilizadas pela humanidade até hoje. Como adquirir conhecimento, como torná-lo consensual, validá-lo de uma forma consistente, para que ele possa ser re-utilizado? Como representa-lo e registrá-lo de forma a que ele possa ser re-utilizado? Como compatibilizar acervos de conhecimento; como somar suas sinergias? Quais os mecanismos sociais para isso? Novas formas tem sido tentadas, como indica D’Ascenzo (2004) para o processo de sequenciamento genômico. Essas questões, devido a sua abrangência, só podem ser enfrentadas a partir de uma ampla colaboração de saberes, dentro de uma visão interdisciplinar, para a qual a Ciência da Informação sempre esteve atenta.
Para que a Ciência da Informação possa contribuir com todo o seu potencial e experiência para o desenvolvimento da Web Semântica é necessário que a CI faça um movimento de se aproximar destas questões, de modo a compreendê-las mais claramente e qual poderia ser sua contribuição. Porém esta possível cooperação não é dada nem esta pronta. É necessária uma aproximação, engajamento em projetos comuns, claramente de caráter interdisciplinar, testar as metodologias no uso comum para que possam ser aperfeiçoadas e se tornem operacionais.
A Web e, em especial, o projeto Web Semântica, mais do que avanços tecnológicos, se constituem em marcos culturais profundos. Uma das questões mais sérias aí colocadas é a questão do conhecimento, dos novos modos de conhecer, dos novos modos de armazenar, preservar e ascender ao conhecimento. É neste cenário, balizado pelo surgimento do computador, as chamadas ciências da concepção – a tanto a Ciência da Computação quanto a Ciência da Informação, conforme Gómez (2003). A Ciência da Informação vem de uma origem claramente marcada pelo uso do computador para o processamento de informações, vem evoluindo na direção de enxergar os fluxos de informação dentro de contextos sociais mais amplos. Essa parece ser também a trajetória da Ciência da Computação. Como coloca Guarino (1995):
“ontologia e modelagem conceitual necessitam ser estudadas a partir de uma perspective altamente interdisciplinar”*. Essa sempre foi a perspectiva da Ciência da Informação. Assim colocada, essa perspectiva faz antever um feliz encontro das duas disciplinas.
PontodeAcesso, Salvador, v.2, n.1, p. 108-137, jun./jul. 2008.
www.pontodeacesso.ici.ufba.br
p. 131

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Os Bagos Frigentes por Frederico C. W.

Dizem que a Nação é viúva; e nessas horas eu penso que é também desamparada. São
tantos e tamanhos os absurdos diários que aparecem nos veículos de informação, que já
estamos ficando acostumados. Insensíveis. Quiçá, dopados.
Aparentemente o povo acordou num sobressalto e deu um grito de basta! a toda essa
bandalheira, há alguns meses. Ficou pública e notória a insatisfação da maioria dos
brasileiros com a atual situação. Mas o absurdo é tão grande, que conseguiram diluir e
distorcer os protestos a tal ponto, que tudo pareceu uma arruaça inconsequente. Fizeram
parecer que o objetivo era o quebra-quebra. A mídia, normalmente comprada, escondeu por
longo tempo as verdadeiras reivindicações populares e, quando não pode mais contê-las, fez
parecer tratar-se de uma briga por interesses de classes. Os partidos políticos se
locupletaram gananciosamente da súbita publicidade do evento e mostraram suas bandeiras,
como se fossem os arquitetos do movimento.
Tudo passou, como se fosse uma tempestade. As manifestações recentes já não
chamam mais a atenção. Os estádios da FIFA andam lotados e já não causam mais
indignação. Foi tudo como uma constipação. Aí veio uma grande diarreia, levou tudo.
Acabou.
Quem estava indignado, continua indignado. O acomodado, continua acomodado. E
nada mais . . . parece até A Banda, do Chico Buarque.
Recentemente, um sopro de mudança. Estava no ar um sentimento de transformação.
O Poder Judiciário sinalizava ao país que os desmandos e os descalabros estavam
estertorando, em nome de uma nação mais séria, mais madura. A grande súcia do propalado
mensalão seria, finalmente, penalizada por sua arrojada e duradoura trajetória no
descaminho - o que é muito próprio dos que apostam na impunidade. O Brasil estava por
conhecer uma nova fase: a da responsabilidade e da efetividade das leis. Mensaleiros na
cadeia! Quem dera . . .
Duzentos e tantos anos atrás, um Joaquim fez tremer a nação, que se rebelou contra a
aviltante soberania estrangeira. Pagou com a vida. Mas a Terra de Santa Cruz nunca mais foi
a mesma.
Semana passada, outro Joaquim em cena. Este, nos decepcionou. Deixou prevalecer a
impunidade, em detrimento da justiça. Permitiu que uma alcateia disfarçada banqueteasse
sobre os despojos morais da nação, diante de milhões de brasileiros atônitos e
decepcionados. Demonstrou claramente que esse vértice da república também está
contaminado e inerme para fazer vigorar a ordem. Tampouco, o progresso.
Deram o solene nome de Embargos Infringentes a essa omissão histórica,
perpetrando mais um golpe na terra do Cruzeiro do Sul.
Não há razão para pânico. Não adianta. Não há razão para indignação. Não resolve.
Só resta a vergonha de sermos apontados, mais uma vez, como um dos mais corruptos e
hipócritas países do mundo. Nisso somos bons. Insuperáveis.
A verdade é que o cidadão de bem já não tem mais paciência de esperar pelo dia que
isso irá ter um fim. Tudo tem um limite, e se frigir é o mesmo que fritar, podemos dizer que
nossos bagos estão frigentes de tanto esperar.
Delenda est Carthago!
Frederico, o indignado