terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Defesa Cibernética Exige Desenvolvimento de Capacidades Ofensivas, por Dr. R Gallo e Gen Carvalho


Combinação de contra-inteligência, eufemismos e o simples desconhecimento da atividade cibernética dificultam a implementação de uma agenda estratégica para o setor cibernético brasileiro.

Introdução

O espaço cibernético relaciona-se ao uso de redes de computadores onde a informação transita em tempo real e a maior dificuldade em sua conceituação consiste em transportá-lo do mundo virtual para o real, bem como em delimitar suas fronteiras, um fato que vem preocupando os Estados-Nação, portanto, afetando a soberania nacional.

No entanto, um fato é inquestionável: as atividades humanas dependem cada vez mais de redes informáticas que, apesar dos enormes benefícios que trazem para a tomada de decisão das autoridades governamentais e de executivos, reduzindo custos e tempo, são vulneráveis ??a uma nova ameaça, a Guerra Cibernética.

A proteção das redes de computadores dos órgãos governamentais e empresas afins é uma questão de Segurança Nacional e deve ser uma preocupação de toda a sociedade, extrapolando o ambiente militar, com a compreensão de que a Segurança Cibernética é a situação normal e a Defesa Cibernética consiste em todas as ações tomadas para obter, manter ou restaurar a condição da Segurança Cibernética quando for comprometida por atos hostis originários de outros Estados-Nação.

Nos dias atuais, quem acompanha o noticiário nacional ou internacional, teve a oportunidade de observar inúmeras notícias que relatam incidentes cibernéticos, desde a disponibilidade de infraestruturas críticas - telecomunicações, energia, sistema bancário, entre outras - passando por roubos de informações secretas de projetos de armas e comunicações diplomáticas, por exemplo, até ações com resultados cinéticos que resultam em perda de vidas, como no caso da destruição das centrífugas de urânio iranianas.

Muitas destas notícias resultam de operações militares patrocinadas e/ou executadas pelos Estados-Nação e, embora ainda que estas sejam relativamente volumosas, proporcionalmente são poucas as que ganham relevância na mídia.

Isso é fácil de entender: muitas destas operações têm como medida de sucesso justamente não serem descobertas. Ou seja, é totalmente justo afirmar que existem sim conflitos no domínio cibernético em andamento pelo mundo, patrocinados, muitas vezes, por entes estatais contra alvos tanto privados quanto públicos, ainda que não existam, neste momento, “guerras declaradas” no sentido clássico.

Obviedades à parte, existem alguns aspectos que acabam por passar imperceptíveis pelos atores não-militares do ecossistema de Defesa e que merecem serem explicitados.

Coordenação operacional.

Na situação mundial atual, caracterizada pela incerteza, mutabilidade e volatilidade das ameaças potenciais, bem como pela presença de novos atores não estatais em possíveis cenários de conflito, em qualquer país, a expressão militar do Poder Nacional deve ser preparada permanentemente, considerando os litígios internacionais atuais e futuros.

Para isso, medidas estratégicas-operacionais devem ser adotadas para que possam responder pronta e adequadamente, antecipando possíveis cenários adversos para a Defesa Nacional.

Neste contexto, o Estado-Nação precisa ter capacidade de se opor às ameaças externas e internas que possam afetar sua soberania, de forma compatível com sua própria dimensão e suas aspirações político-estratégicas no cenário internacional.

Isso permite que o país atinja objetivos estratégicos e preserve seus interesses nacionais, além do exercício do direito de defesa garantido pela Constituição Federal e pela ordem jurídica internacional.

Assim, a Defesa Cibernética deve ser estabelecida como uma atividade fundamental para o sucesso das operações militares em todos os níveis de comando, na medida em que viabiliza o exercício de Comando e Controle, através da proteção de ativos de informação, enquanto permite que o mesmo exercício seja negado ao oponente.

Na condição de atividade especializada, sua execução é baseada em uma concepção sistêmica, com métodos, procedimentos, características e vocabulário que lhe são peculiares.

Operações cibernéticas podem ocorrer estritamente no 5º domínio do campo de batalha ou em coordenação com operações cinéticas nos demais domínios (terrestre, marítimo, aérea e espacial), tendo como exemplo clássico a derrubada do sistema de comunicações na República da Geórgia antes e durante a invasão Russa de 2008, corroborando que ações cinéticas para o auxílio de ações cibernéticas também são possíveis, seja no posicionamento físico de equipamento de inteligência de sinais (SIGINT), seja na engenharia social sobre um alvo.

Encastelamento, só que não.

Hoje, no mundo cibernético ainda não existe um equivalente do que foi a pólvora ou a fissão nuclear no mundo físico. Como resultado, uma estratégia de encastelamento, ou seja, fortificação 100% protetiva na Defesa possui eficácia razoável, retardando o sucesso dos adversários.

Entretanto, de forma equivocada e muitas vezes alimentada pela percepção distorcida dos fornecedores do mundo de Tecnologia da Informação, alguns incorporam uma visão equivocada de que as capacidades de proteção bastam.

Esta percepção é falsa. Assim como no mundo cinético, é importante denegar o meio ao adversário, abater suas plataformas para cessar um ataque ou simplesmente mostrar os músculos com fins de dissuasão.

Não-atribuição de origem.

No domínio cibernético, um ataque minimamente competente não deixa provas definitivas de autoria. A atribuição de origem de ataques na maior parte das vezes é circunstancial, probabilística.

Como exercitar dissuasão em um contexto onde o revide é limitado?

A resposta vem em dois eixos: ações de inteligência, com o objetivo de resolução de alvos e, concomitantemente, um alto poder de contra-ataques, que contrabalanceie, do ponto de vista do adversário, a baixa chance de ser pego. Ou seja, no domínio cibernético, o exercício da dissuasão requer “dentes afiados e olhos aguçados”.

Variedade, não quantidade.

Desenvolver armamento convencional, por exemplo, um míssil ar-ar de 4ª geração, intermediária, envolve investimentos que chegam perto de um R$ 1 bilhão, para uma posterior produção, em baixo volume, de unidades que podem custar na faixa R$ 500 mil.

Prontidão com tal armamento significa mormente, ter a capacidade produtiva local -adquirida via desenvolvimento autóctone ou offset - e um arsenal com número razoável de peças – afinal, 100 unidades de um míssil podem fazer um estrago 100 vezes maior que uma única peça.

Já a lógica dos armamentos cibernéticos é muito diferente: quando feito em série, desenvolver um artefato cibernético pode ser tão barato quanto centenas de milhares de reais ao passo que o seu uso tem custo material zero, caso não haja licenças para terceiros.

Porém, a cada uso, há uma chance razoável que um dado armamento se torne inócuo a medida que a(s) vulnerabilidade(s) que usa torna(m)-se conhecida(s) pelo alvo. Levando-se assim em conta o poder de neutralização, é fácil concluir que uma capacidade ofensiva cibernética tipicamente tem uma relação custo-benefício muito mais favorável que suas contrapartes cinéticas.

Desse modo, no mundo cibernético, prontidão significa desenvolvimento constante de artefatos variados, pois o espaço cibernético não possui limitações físicas de distância e espaço e não tem limites geograficamente definidos, sendo mutável e dependente das condições ambientais e da criatividade do ser humano, onde os efeitos colaterais podem ser incontroláveis, implicando na inexistência de um sistema informático totalmente seguro.

Resumindo, o espaço cibernético é sui generis e dual, uma vez que normalmente há dificuldade de atribuição dos ataques, sem saber se eles são provenientes ou não de ações protagonizadas pelos Estados-Nação.

Discussão

Quem acompanha a mídia, principalmente os canais especializados em tecnologia da informação comentando sobre temas de Defesa, raramente encontrará referências claras às capacidades ofensivas ou armamentos cibernéticos. Entende-se que situações como a do Stuxnet, usado contra instalações nucleares iranianas, parecem exceção, quando à parte do grau específico de sofisticação é comum.

Por outro lado, em Estados-Nação com constituição e histórico pacíficos, onde a Defesa é pensada como elementos de proteção da integridade nacional, com fronteiras bem-definidas, a realidade do mundo cibernético destoa do ideário dissuasório pacifista tradicional.

As principais razões destas divergências estão em torno da imaterialidade de fronteiras físicas e da dificuldade da atribuição de origem de ataques.

Esta lacuna é implicitamente indigesta do ponto de vista político ao passo que o necessário exercício de capacidades ofensivas em tempos de paz extrapola o âmbito militar.

Neste contexto, muitas vezes a realidade objetiva do setor é simplesmente ignorada ou, nos casos menos graves, eufemismos, como “defesa ativa”, são usados.

É fácil perceber como este cenário atrapalha o horizonte estratégico de prontidão autóctone de qualquer país.

Para o Estado-Nação atacante, a Guerra Cibernética pode ser menos dispendiosa, tanto financeira, quanto politicamente, quando não se pode ver o ataque, tornando-se uma alternativa viável e apropriada, de acordo com o cenário prospectivo.

Do ponto de vista defensivo, a ameaça cibernética pode ser considerada mais complexa, dada a diversidade e vulnerabilidades da própria tecnologia. Assim, a adaptação do Estado-Nação para enfrentá-lo deve ser abordada com responsabilidade, flexibilidade, velocidade e visão estratégica, com ênfase em atividades de inteligência e tecnologia da informação.

Não devem ser buscadas pelo Estado-Nação apenas a implementação de novas estruturas cibernéticas no contexto governamental, antes, devem ser incentivadas ações a favor de uma sinergia com outros parceiros, através de regras de compras, contratação e desenvolvimento de produtos e sistemas nas áreas de tecnologia da informação e de inteligência, conhecimento fundamental neste novo domínio operacional da guerra, a cibernética.

O desenvolvimento da Defesa Cibernética no Estado-Nação, portanto, deve aumentar sua capacidade de atuar em uma rede com as agências governamentais, os órgãos públicos e civis, as instituições acadêmicas e a base industrial de defesa, afim de melhorar suas atividades de proteção, exploração e pronta resposta às latentes ameaças cibernéticas de outros Estados-Nação, organizações e, até mesmo, de grupos diversos com as mais variadas motivações.


Dr. Roberto Gallo

Atua desde 1999 na área cibernética. É fundador e diretor executivo da KRYPTUS EED S/A, coordenador do comitê de cibernética da ABIMDE e professor associado da Escola Superior de Guerra da Colômbia. É um laureado do prêmio “Marechal-do-Ar Casimiro Montenegro Filho” da Presidência da República do Brasil por sua tese de doutorado na área Cibernética.


General-de-Divisão da Reserva Paulo Sergio Melo de Carvalho

Foi Chefe do Centro de Defesa Cibernética, responsável pela realização de atividades colaborativas e de integração no Sistema Militar de Defesa Cibernética, de março de 2014 a abril de 2016, e o primeiro Comandante do Comando de Defesa Cibernética. Atualmente, trabalha como consultor no setor cibernético, atuando no Projeto da FAPESP Rede Acadêmica do Estado de São Paulo (Rede ANSP) e assessorando empresas, bem como é professor associado da Escola Superior de Guerra da Colômbia.

27 de Fevereiro, 2018 - 13:25 ( Brasília )
http://www.defesanet.com.br/cyberwar/noticia/28533/Defesa-Cibernetica-Exige-Desenvolvimento-de-Capacidades-Ofensivas/

sábado, 24 de fevereiro de 2018

OS DOIS NOVOS NOMES DA INTERVENÇÃO, por Gerson Gomes no Facebok


O Gen Braga Netto, interventor federal na Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro (que manteve suas atribuições de Comandante de todas as tropas do Exército no ES, MG e RJ), escolheu os dois Generais que implementarão, com dedicação exclusiva, seu plano de intervenção: o General de Divisão SINOTT e o Gen de Brigada RICHARD (que receberá sua terceira estrela no próximo dia 31 de março, sendo promovido também a General de Divisão).
O interventor, dessa forma, age simultaneamente em duas importantes frentes, atuando sobre causas e consequências da crise.

O Gen Sinott, um Força Especial, profundo conhecedor das facções e milícias que agem no ambiente urbano carioca, dispensa qualquer apresentação de credenciais para chefiar as operações que integrarão diversificados meios federais e estaduais. Seu trabalho, utilizando a excelente estrutura de comando e controle deixada como legado dos Jogos Olímpicos, naturalmente atrairá a atenção dos principais veículos jornalísticos. Serão produzidas dezenas de notas à imprensa, explicando o uso tático de helicópteros, blindados de transporte de tropas, unidades de forças especiais, guerra eletrônica, operações psicológicas, técnicas de contra-terrorismo adaptadas ao contexto do Rio, uso massivo de operações de inteligência, integração do Ministério Público às Operações, etc. Não tenho a menor dúvida de que o Gen Sinott será bem sucedido.

Gostaria de ressaltar, no entanto, o enorme desafio do segundo oficial general, que assumirá a Secretaria de Segurança Pública. O General Richard terá dez meses para erigir um legado institucional mínimo, a ser deixado pelo interventor federal para o Estado do Rio de Janeiro. Se não for bem sucedido na missão recebida, todo o esforço e conquistas do Gen Sinott serão desfeitos em poucos meses.
O novo Secretário de Segurança deverá submeter ao Gen Braga Netto, para nomeação, os nomes do Comandante da PM, do Chefe da Polícia Civil, do Comandante do Corpo de Bombeiros e, creio, também do Secretário de Administração Penitenciária. Para tal, buscará profissionais capazes de indicar soluções para a atual crise e que apoiem o trabalho necessário das corregedorias. O Gen Richard se deparará, por exemplo, com nomeações políticas de alguns comandantes de batalhão e delegados em redutos eleitorais de deputados da ALERJ (com reflexos na maior, ou menor, ação de combate aos ilícitos perpetrados por apoiadores financeiros de campanhas eleitorais). Existem conexões entre o poder político e o crime organizado, que lamentavelmente perpassam os órgãos de segurança pública do Rio.

A falta de integração entre as polícias (que sofrem igualmente com condições precárias de trabalho e salários atrasados), convive com uma estrutura gigantesca e pesada na secretaria que o General assumirá. É a maior, mais cara e disfuncional Secretaria de Segurança do país! São mais de 800 PM desviados de suas funções e lotados nessa superestrutura (fora os policias civis). O órgão, tipicamente de coordenação, avocou para si muito do trabalho que deveria ser feito pelas polícias. Pouca gente sabe, mas ao ligar para o 190, no Rio de Janeiro, você não falará com a PM. Será atendido pela Secretaria de Segurança Pública.

O Gen Richard, sob uma ótica técnica, poderá elucidar se o número de policias no Rio é suficiente e se está devidamente distribuído. Aproximadamente 38.000 homens fardados integram a PM. Um pouco menos que 10.000 são os policiais civis. Estão compatíveis esses números? Mais de 3.000 policiais militares, bombeiros e policiais civis estão “emprestados”, a serviço da segurança pessoal e patrimonial de integrantes dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Dos 39 Batalhões, 35 estão com déficit em seu número de policiais, em contrapartida, o número de PM cedidos a outros órgãos estaduais ultrapassa os 2.000 homens (o que seria suficiente para criar 5 novos batalhões).
O General Richard precisará fomentar rapidamente a integração maior entre as polícias do Rio. A desconfiança recíproca entre as corporações toma contornos que vão da redundância (como o trabalho da CORE X BOPE) à quase sabotagem na troca de dados de Inteligência. Se quem investiga não patrulha e quem patrulha não investiga, essa falta de harmonia é fatal.

A experiência do Haiti é recorrentemente evocada. Poucos mencionam, entretanto, como foi construída a estabilidade que permitiu nossa saída exitosa daquela ilha caribenha. Em toda a história da ONU, nunca um único país foi mantido à frente dos militares de uma missão de paz, sem alternância com os demais países contribuintes com tropa. Por que isso ocorreu na MINUSTAH? Dentre outros motivos, elenco um: a invulgar visão estratégica dos nossos generais designados para a missão. Os Force Commanders brasileiros se destacaram por seu trabalho em prol do restabelecimento do protagonismo do povo haitiano. Sabiam da importância das eleições que reedificaram o parlamento e o Poder Executivo. Trabalharam com afinco (e muita paciência) para a reconstrução da PNH (Polícia Nacional Haitiana), tratando as inúmeras agências da ONU interessadas (Rule of Law, Pollitical Affairs, etc.) com elevada consideração.

Enquanto as tropas forneciam a segurança, uma escola de magistratura foi criada e dezenas de juízes haitianos foram designados para mobiliar uma estrutura da Justiça próxima da população. Ao mesmo tempo, a Academia de Polícia foi reativada e ampliada, permitindo a formação anual de centenas de agentes que assumiram, paulatinamente, o controle de fronteiras, portos, aeroportos, guarda costeira, delegacias policiais nos bairros, etc.

Com esse paralelo estabelecido, regresso ao caso do Rio. O interventor, de forma semelhante, atribuiu ao Gen Richard a missão de ajustar a parte da máquina estatal que estará sob sua responsabilidade, com vistas à retirada das tropas, em janeiro de 2019.
Observe atentamente as 4 fotos que ilustram esta publicação e estabeleça o nexo causal entre elas.
O desafio para ambos os Generais será enorme. Um lidará com a neutralização de bandidos armados de fuzis, no meio da população. O outro, enfrentará os efeitos deletérios de décadas de gestão comprometida por poderosos malfeitores munidos de caneta.

https://www.facebook.com/gerson.gomes.5/posts/10211242499005145

domingo, 18 de fevereiro de 2018

A Intervenção de 2018: um novo Alemão? por Gerson Gomes

Uma emblemática e exitosa operação militar ocorreu em novembro de 2010, em uma área crítica e totalmente fora de controle do poder público no Rio de Janeiro: a ocupação do complexo do Alemão. A lembrança desse evento é especialmente didática, quando o atual recrudescimento da violência no Rio curiosamente sucede um período de paz social experimentado durante os Jogos Olímpicos de 2016.

Em termos práticos (e sem sensacionalismo) a intervenção federal, ora em curso, restabelece a estrutura utilizada durante a Copa do Mundo, Rio + 20 e Jogos Olímpicos, quando o Exército comandou (inteligentemente utilizando o verbo “coordenar”) todas as forças de segurança na área. O “interventor” nada mais é que o atual Comandante Militar do Leste, ou seja, a maior autoridade responsável pelas missões de Defesa na região compreendida pelos estados do RJ, MG e ES. Essa é apenas mais uma missão subsidiária e episódica imposta às Forças Armadas, para a qual estão preparadas e dimensionadas. Simples assim, porém altamente custosa e inapropriada no longo prazo.

Voltemos portanto à 2010. As UPP (Unidades de Polícia Pacificadora) eram tidas como a solução adequada para a integração das comunidades carentes à cidade. O raciocínio fazia todo sentido: restabelecida a ordem pública, outras facetas do Estado poderiam penetrar nas áreas dominadas pelo narcotráfico, restabelecendo a cidadania subtraída dos moradores.
O programa começou pelas menores e mais tranquilas favelas. O complexo do Alemão e Penha, com mais de 160.000 habitantes, era uma das áreas mais perigosas e inexpugnáveis ao policiamento ostensivo da Polícia Militar, bem como às investigações e cumprimentos de mandados conduzidos pela Polícia Civil. Sua “conquista” era necessária para a concretização do sonho de sediar a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos. Foi costurada, então, uma inédita operação de intervenção federal, limitada geograficamente a apenas um “grande bairro”.

Forças políticas se mobilizaram para obter o apoio da opinião pública. A mídia jornalística adotou uma temporária e inimaginável pauta pró Forças Armadas. Empresários se ofereceram para ajudar a Prefeitura e os poderes legislativo e judiciário se engajaram na empreitada. Até mesmo uma “trégua” dos movimentos de apoio aos direitos humanos foi obtida por intermédio de uma controversa “manobra de mídia”: a ocupação foi anunciada com antecipação, permitindo a histórica cobertura jornalística da fuga atabalhoada de dezenas de traficantes, correndo com suas armas em retirada face à progressão dos blindados dos Fuzileiros Navais.
Foram 19 meses de ocupação pelo Exército, utilizando doutrina e metodologia muito similar à empregada na missão de paz do Haiti. A ordem pública foi rapidamente restabelecida, em sinergia rara com o Ministério Público, o qual obtinha os mandados de prisão, de busca e apreensão com invulgar rapidez e sincronia com o trabalho da Inteligência Militar. Com o restabelecimento da segurança, a Prefeitura conseguiu empreender diversos projetos comunitários, como a construção do teleférico, inspirado nos projetos de pacificação de Medellin na Colômbia.
Ao termino da ocupação, a UPP foi instalada no Alemão e a responsabilidade pela segurança do complexo de bairros restituída ao governo estadual. Hoje, lamentavelmente, a situação no Alemão retrocedeu à encontrada em novembro de 2010. Os policiais da UPP do Alemão já sofreram diversos ataques violentos e o projeto de pacificação, que seria ampliado, sucumbiu em meio à crise política-administrativa do Rio.
Face a esse resgate da história recente, aflora uma importante pergunta a ser respondida pelos moradores e pagadores de impostos do Rio de Janeiro: o que precisa ser feito para não repetirmos a experiência onerosa e frustrante do Complexo do Alemão?
Não virá de Brasília a solução dos problemas de segurança de nenhum ente da Federação. A criação de mais um Ministério, por exemplo, segue na contramão da necessária revisão do pacto federativo.
É chegado o momento do cidadão assumir, pelo voto, a responsabilidade pelo futuro e desenvolvimento da cidade onde mora e de seu Estado. Estão evidentes (nos diversos inquéritos policiais) as forças políticas que se instalaram como quadrilhas no Congresso Nacional, nas Assembléias Legislativas, nos tribunais de contas, na máquina governamental e, até mesmo, nos Tribunais de Justiça. Não promover em 2018 uma renovação radical dos parlamentos, reelegendo criminosos, é ato da maior inconseqüência. Não escolher com critério os principais gestores do Poder Executivo, por outro lado, será uma falha imperdoável.

Esta intervenção federal enseja ótima oportunidade de percepção das causas reais da violência, bem como das mudanças políticas necessárias. Os eleitores ganharão 08 meses para refletir com cuidado, antes de encararem as urnas em outubro. Os candidatos ao governo do Estado (bem como os postulantes às cadeiras de deputados estaduais) terão 10 meses para planejar suas ações, antes de iniciarem seus mandatos em janeiro de 2019, quando receberão, de volta, a responsabilidade pela segurança pública do Rio de Janeiro. O salvador do Rio não é o General interventor. É o eleitor!

Gerson Gomes  é oficial do Exército da reserva e postou isto no FaceBook ontem às 0242hs


quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Na lanterna da produtividade - pesquisa O GLOBO


"O Brasil não vai bem há três décadas, e as perspectivas para o futuro não são nada favoráveis" Claudio Dedecca Economista da Unicamp

Levantamento feito pela Fundação Getulio Vargas (FGV) a pedido do O GLOBO mostra que o Brasil continua na lanterna da produtividade do trabalho. Segundo o estudo, um empregado brasileiro gera, em média, US$ 16,80 (ou R$ 54,09) por hora trabalhada, o que o coloca na 50ª posição dentre uma lista que inclui 68 países. Na Alemanha, por exemplo, país modelo em produtividade e o quinto do ranking, os empregados são quase quatro vezes mais produtivos do que os brasileiros (produzem US$ 64,40 por hora), e trabalham, em média, 340 horas menos por ano que o trabalhador no Brasil.

Para especialistas, a baixa qualificação da mão de obra brasileira, a falta de investimento em inovação, o perfil do setor produtivo, que concentra a maior parte da mão de obra em setores mais informais - como comércio e serviços - e a economia ainda bastante fechada à concorrência estrangeira não só explicam esse desempenho ruim como anulam as perspectivas de melhora a curto e médio prazos.

- O grau de qualificação da mão de obra, a capacidade de inovar e de difundir novas técnicas são fundamentais para a produtividade do trabalho crescer. A jornada de trabalho é consequência disso. Trabalhadores de países com maior produtividade geralmente têm um padrão de vida melhor, são mais qualificados e têm maiores salários, e, por isso, não veem necessidade de ter mais de um emprego ou uma jornada tão extensa - analisa Tiago Barreira, pesquisador do Ibre/FGV e um dos autores do estudo.



É o caso, por exemplo, da Noruega, primeira do ranking, com produtividade de US$ 102,80 por hora trabalhada e uma jornada de 1.427 horas anuais, e a Holanda, terceira da lista, onde os trabalhadores têm uma jornada de 1.419 horas por ano e geram US$ 65,50 a cada hora trabalhada. Para fazer o levantamento, ele dividiu o Produto Interno Bruto (PIB) pela média de horas trabalhadas por ano pela população empregada de cada país. Foram usados os dados mais recentes disponíveis dos 68 países, referentes a 2014, do instituto americano Penn World Table, especialista no tema.

- Mesmo quando pegamos dados de outras pesquisas, como da OIT (Organização Internacional do Trabalho), o Brasil não vai bem há três décadas, e as perspectivas para o futuro não são nada favoráveis. Países como Taiwan e Coreia do Sul, que nos anos 1980 tinham uma produtividade muito inferior, passaram à nossa frente e a tendência é que essa defasagem aumente. Isso já se reflete em baixo nível de renda para a população, menor capacidade de concorrência no cenário externo e deterioração da balança comercial brasileira - avalia Claudio Dedecca, economista da Unicamp.

No ranking da FGV, Taiwan está 29 posições à frente do Brasil, e a Coreia, 15. Entre os países da região, a Argentina está em 42º lugar, com produtividade de US$ 26,80 por hora trabalhada. Segundo Dedecca, o desempenho acima da média da Alemanha, por exemplo, decorre de políticas públicas em vigor desde o século XIX focadas na formação da mão de obra e nos constantes aprimoramentos das relações de trabalho.

- Na contramão, no Brasil temos um ambiente de trabalho ruim e uma péssima relação entre sindicatos de trabalhadores e patrões. Perdeu-se a oportunidade de fazer uma reforma trabalhista focada no aumento de produtividade. Em vez disso, optou-se por criar condições para reduzir os custos com o trabalhador. Há no Brasil uma postura lamentável do governo, dos trabalhadores e dos empresários de só querer ganhar a curto prazo - critica Dedecca.

FALTA PARCERIA ENTRE EMPRESAS E UNIVERSIDADE

Carlos Arruda, professor de Inovação e Competitividade da Fundação Dom Cabral, critica a falta de qualidade do sistema educacional, barreira à melhora da qualidade da mão de obra:

- O Brasil conseguiu universalizar a educação básica, mas está entre os piores do mundo em qualidade da educação. Tem baixo percentual de alunos formados em ciências, tecnologia, engenharia e matemática. Enquanto na China, na Coreia do Sul e nos EUA, que têm produtividade superior, metade dos universitários estão nessas áreas; no Brasil, esse percentual não passa de 15%.

Também contribui para a baixa produtividade brasileira, observa Sérgio Firpo, professor de Economia do Insper, o fato de a maior parte das empresas brasileiras ser de pequeno e médio porte: usam técnicas mais rudimentares de produção, puxam a média da produtividade para baixo e quase não fazem concorrência às grandes empresas:

- Firmas menores tendem a ser menos produtivas, mas continuam a produzir nessa escala por muito tempo. As maiores não se veem ameaçadas, e isso desestimula o investimento em produtividade para aumentar a competitividade.

Firpo também sente falta de mais parcerias entre empresas e universidade para a produção de novas tecnologias, por meio de incubadoras.

- A última vez que nossa produtividade cresceu foi nos anos 1970, quando investimos massivamente em novas máquinas e equipamentos. A recessão deve ter contribuído para piorar esse quadro, mas estamos estagnados desde os anos 1980. Temos de abrir a economia para expor as nossas firmas à concorrência, obrigando-as a aumentar a produtividade - diz o economista do Insper.

Renato Fonseca, gerente executivo de Pesquisas e Competitividade da CNI, pondera, no entanto, que o ano de 2017 tende a ter sido de aumento da produtividade, justamente motivada pela crise:

- A indústria precisou reduzir custos e investiu em eficiência, troca de máquinas e reorganização de processos, melhorando sua gestão. Principalmente as pequenas e médias. É possível ter um ganho de produtividade entre 40% e 50% só rearrumando a linha de produção.



Fonte: O GLOBO - RJ

domingo, 11 de fevereiro de 2018

FY19 budget puts US ‘back to a position of primacy,’ Mattis says

ROMA - Um novo acordo de orçamento no Congresso, juntamente com o orçamento do ano fiscal de 2019, deu ao Pentágono a rampa que precisa para começar a remodelar o exército americano, o secretário de Defesa Jim Mattis acredita.

'Estou muito confiante de que o que o Congresso já fez, eo presidente vai nos alocar no orçamento, é o que precisamos para nos voltar a uma posição de primado', disse Mattis enquanto viaja para a Europa no domingo. A notícia da defesa está viajando com a secretária.

Quando assumiu o cargo, o presidente Donald Trump prometeu 'reconstruir' os militares da América, mas o pedido de orçamento do FY18 foi largamente visto pelos analistas como bem abaixo desse objetivo. Exacerbando esse problema foi a incapacidade do Congresso de alcançar um acordo orçamentário nos primeiros cinco meses do ano fiscal.

Esse último problema parece ter se resolvido, com o acordo da Trump em um acordo do Congresso que dá à defesa US $ 700 bilhões em FY18 e US $ 716 bilhões para o ano fiscal de 19. E com o orçamento FY19 definido para lançamento segunda-feira, a Mattis está preparada para gastar esse dinheiro - com o objetivo de aumentar a capacidade, ao invés de investir em números puros.

'Nós teremos que comprar alguns F-18 novos, por exemplo, para manter os esquadrões F-18 onde eles podem ser mantidos', disse Mattis. 'Vamos colocar alguns elementos novos, o cyber é um exemplo, e recrutaremos mais mecânica na Força Aérea e recrutaremos mais soldados e marinheiros' para preencher lacunas.

'Então, não é muito maior, organizacionalmente. É construído mais para abordar as formas em mudança de guerra e para aumentar as capacidades atuais '.

Susanna Blume, analista de defesa do Centro para uma Nova Segurança Americana, disse que acredita que um foco na capacidade sobre a capacidade faz sentido, mesmo que isso vá contra a promessa de Trump de um grande acúmulo militar.

'Mesmo esse aumento considerável de recursos, e é considerável, não permitirá que o departamento se aproxime da promessa de campanha para números de estrutura que o candidato Trump chegou lá', disse Blume em 9 de fevereiro.

Quando as histórias importantes caírem, coloque-as na sua caixa de entrada. Subscreva 'Em um ambiente onde estamos tentando mudar o foco para a concorrência estratégica com a China e a Rússia, faz muito pouco sentido, para mim pelo menos, concentrar-se no número de soldados e número de navios e número de aeronaves sem pensar cuidadosamente nas capacidades ', acrescentou.

A revisão da postura nuclear coloca a Rússia firmemente na mira. A América está se preparando para introduzir novas capacidades nucleares para combater o que é visto como doutrina russa.

Por: Aaron Mehta O desenvolvimento do orçamento FY19 foi complicado por uma série contínua de revisões, incluindo a Estratégia Nacional de Segurança lançada em dezembro, a Estratégia de Defesa Nacional lançada em janeiro e a Nuclear Posture Review divulgada em fevereiro. A Análise de Defesa de Mísseis Balísticos ainda está em andamento e pode ser lançada no próximo mês.

Como esses documentos de política estavam sendo desenvolvidos simultaneamente com o orçamento, o vice-secretário de defesa Patrick Shanahan disse que não será até o ano fiscal 2020 que o verdadeiro orçamento da 'obra-prima'** seja lançado. Mas Mattis observou que a equipe do Conselho de Segurança Nacional que redigiu a Estratégia de Segurança Nacional manteve o DoD firmemente no circuito, permitindo que o departamento incorporasse pelo menos algumas dessas decisões em seu plano de orçamento.

'Nós estávamos no piso térreo. Vimos gráficos diferentes, fomos com nossos insumos e todos, ao mesmo tempo em que estávamos juntando nossa Estratégia de Defesa Nacional ', explicou o secretário. 'Nossos orçamentários estavam recebendo orientação constante à medida que a Estratégia de Segurança Nacional [e] a Estratégia de Defesa Nacional foram reunidas. Então, tudo isso se alimenta da visão de longo prazo que já está dentro da estratégia de defesa '.

**'Uma grande parte do meu tempo nos próximos doze meses será garantir que [o orçamento FY20] seja a obra-prima. É provavelmente o próximo maior passo que podemos tomar para garantir que não possamos desenrolar a estratégia ', afirmou (Shanahan). (https://www.defensenews.com/pentagon/2017/12/22/pentagon-expects-on-time-budget-for-2019-but-trumps-masterpiece-will-be-in-2020/)

Sobre Aaron Mehta Aaron Mehta é o Correspondente Sênior do Pentágono e Editor Associado de Notícias de Defesa, abrangendo políticas, estratégias e aquisições nos mais altos níveis do Departamento de Defesa e seus parceiros internacionais.
(Tradução Google)
https://www.c4isrnet.com//smr/federal-budget/2018/02/11/fy19-budget-puts-us-back-to-a-position-of-primacy-mattis-says/?utm_source=Twitter&utm_medium=Socialflow

sábado, 3 de fevereiro de 2018

A verdade do momento (Artigo) por CRISTOVAM BUARQUE, senador

Dirigentes petistas perderam o sentimento da realidade, a noção da verdade.O jornalista Fernando Gabeira publicou neste jornal, no dia 25, artigo sob o título "O momento da verdade", onde mostra que, ao não aceitar a condenação de Lula pela Justiça, o PT demonstra seu divórcio entre a imaginação política dos militantes e a verdade do sentimento da nação. 
Não houve, como esses dirigentes esperavam, um levante popular contra a Justiça. Porque não há uma causa em jogo. Trata-se apenas de manter ou não o Lula na disputa presidencial, sem um rumo diferente para o Brasil.O que há de mais grave é que o PT não entendeu a gravidade do momento: não reconhece seus erros, não percebe que o mundo real aposentou a falsa verdade entranhada nas mentes dos seus militantes. Depois de quase duas décadas, as falsas narrativas - da "ascensão da classe média pela Bolsa Família", do "salto científico pelo Ciência Sem Fronteiras", da "revolução educacional pelas vagas na universidade" - transformaram-se em realidades alternativas, que não apenas criaram narrativas, mas se acreditam nelas.A tragédia brasileira é não poder contar com o imenso potencial do PT e do Lula, porque eles perderam o sentimento da realidade, a noção da verdade, a credibilidade das propostas e o patrocínio de um novo rumo para o Brasil. E isso se deve por terem abandonado propostas de economia eficiente, sociedade justa, civilização sustentável, política ética. Perderam o vigor transformador que apresentavam, passando a acreditar na imagem de verdade que criaram para justificar o poder pelo poder, inclusive de que o Temer seria ótimo presidente se a Dilma tivesse algum problema que a impedisse de continuar seu mandato.O povo não foi à rua para atacar a Justiça porque não vê uma causa por trás do PT ou de Lula. Em 1964, foi preciso usar tanques e soldados para impedir o povo de ir à rua pela legalidade e pelas reformas em marcha lideradas por Goulart. Hoje, o impeachment foi feito dentro da legalidade, o substituto foi escolhido pelo PT; o partido ficou 13 anos no poder, sem deixar qualquer reforma em marcha, apesar da expansão de programas assistenciais ameaçados pela inflação e recessão.O povo não foi para a rua na semana passada porque não viu causa transformadora para defender e pela qual lutar; além de perceber no PT um partido condenado eticamente sob fortes evidências de corrupção na Petrobras, fundos de pensão etc., com indícios de benefícios injustificados, remunerações superfaturadas, compra de apartamento na praia e sítio de lazer.A incapacidade para ver a realidade está impedindo o Brasil de beneficiarse do que ainda sobrevive no PT, inclusive aqueles que não se corromperam pelo poder ou por dinheiro com falsas narrativas. O Brasil ganharia muito se eles fizessem uma autocrítica e pedissem desculpas ao país pelos erros cometidos. Seria a verdade do momento para ajudar o Brasil a enfrentar o arriscado futuro próximo, que está ameaçado pelos desastres que cometeram.
Fonte: O GLOBO - RJAutor: CRISTOVAM BUARQUE

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