segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

O estado da arte em Inteligência nos Estados Unidos da América- Alfredo Passos, Prof. Dr.


O professor assistente de política e diretor do programa em estudos de inteligência na Catholic University of America em D.C., Nicholas Dujmovic, escreveu recentemente um artigo para o The Washington Post chamado “Colleges must be intelligent about intelligence studies”, onde procura mostrar o atual estágio dos cursos de Inteligência nos Estados Unidos da América.

A primeira constatação do autor, vem de estudos que mostram o crescimento no número de cursos de Inteligência nos colégios, após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. Para ser exato, entre 2001 e 2008, os cursos triplicaram, e uma pesquisa de 2015 mostra que mais de 24 universidades organizaram programas de Inteligência.

Com o crescente interesse pelo ensino superior nos Estados Unidos, é natural que programas de Inteligência, também tivessem esse aumento, assim como aconteceu como programas de estudos russos no período da guerra fria, afirma o autor. Ou o interesse em ciências e engenharia depois do lançamento do satélite soviético Sputnik em 1957, ou mais recentemente, a proliferação de cursos de língua árabe.

No caso de Inteligência, com mais notícias aparecendo na mídia, colégios e universidades começaram a considerar, esta como uma nova opção de carreira. E assim oferecendo conteúdo.

Dujmovic, trabalhou na CIA por 26 anos, como oficial de Inteligência e 14 anos na Guarda Costeira Americana. E portanto, ressalta sua entrada recente no mundo acadêmico.

Ressalta o pioneirismo do Mercyhurst College em Erie, Pensilvânia, primeiro programa de uma instituição civil em 1992, (e que continua sendo a mais respeitada até hoje, especialmente na formação de analistas de Inteligência, grifo meu).

Esse comentário é para dizer que esses programas de Inteligência, até então, tinham como conteúdo, estudos de segurança nacional ou programas de história dos Estados Unidos. Por isso, que o programa do Mercyhurst ganhou destaque.

Estudo 2015

Por ter trabalhado na CIA, o autor tem maior familiaridade com esta organização. Comenta que os recrutadores afirmam que a maior parte dos jovens que se candidatam as posições de inteligência, naquela organização, não tem uma formação sólida. Não sabem o que é Inteligência, o que se faz, como se desenvolveu a Inteligência nos Estados Unidos e quais são suas limitações. Mesmo os poucos que terminam o processo de seleção, de alto investimento, para formar um agente de inteligência, ainda não sabem tanto, quanto deviam saber.

Mas, foi-se de um extremo ao outro, comenta o autor.

Se nos anos 1992 havia um programa de Inteligência, voltado às questões de segurança nacional, história dos Estados Unidos, entre outros temas, agora, no estudo de 2015, as 24 universidades, oferecem bacharelados de artes, voltados a formação de analistas de inteligência.

Isto quer dizer, que Inteligência é uma disciplina junto com outras, e não o foco principal de alguns programas ou cursos.

Dujmovic, afirma que este pode ser um problema frente a formação anterior versus a nova formação, onde Inteligência, não é a disciplina central do curso.

O autor, se refere, aqueles estudantes que têm interesse e pretendem se candidatar a posições na comunidade de inteligência do governo dos Estados Unidos. Embora, seja válido pensar na iniciativa privada também (grifo meu).

A preocupação é quanto ao conhecimento. As agências de inteligência não querem que seus novos empregados sejam ignorantes sobre Inteligência. Por isso, seja, CIA, NSA ou State Department’s Bureau of Intelligence and Research, ecoam palavras de um erudito de inteligência, Mark Lowenthal[1], diretor assistente CIA “inteligência pode ser menor, nunca maior”.

Isto quer dizer, o ambiente geopolítico atual, agora mais do nunca, exige oficiais de inteligência com perícia em áreas temáticas específicas, inclusive outros idiomas.

Um estudante que se especializa em inteligência não se especializa em chinês, ou física nuclear, ou finanças internacionais, ou bioquímica ou nenhum número de campos substantivos que se valorizam altamente pelas agências de inteligência. Cada um que olha para as descrições de posições de inteligência postas, por exemplo, no website da CIA, verá qualificações desejadas que incluem graus nestes e outros campos, como estatística, Ciências da Computação, assuntos internacionais e assim por diante.

Porém, análise não é uma profissão e nem tudo que se faz em Inteligência.

E no caso das agências, são estas organizações que preferem ensinar “como” elas realizam suas “análises” para seus novos empregados.

Embora pensamento crítico e escrita sejam essenciais para o êxito em Inteligência, estas habilidades podem ser adquiridas em um programa acadêmico rigoroso de qualquer campo.

Um veterano instrutor da CIA, disse ao autor, que estes programas de formação de analistas atuais, são de pessoas de credibilidade, são caros, mas não conseguem entregar claramente uma vantagem que seja demonstrável, impedindo o estudante de especializar-se em algo, que de fato ele ou ela ofereça uma possibilidade no êxito de uma carreira em Inteligência.

Em resumo, o autor finaliza sugerindo o programa que lhe parece correto: “Uma dessas abordagens seria o que me foi pedido na minha instituição (Catholic University of America em D.C): o desenvolvimento de um programa com menos estudos de inteligência, com envolvimento significativo de ex-agentes de inteligência com credenciais acadêmicas, para fornecer aos alunos o conhecimento necessário sobre a coleta de informações, a análise, contra inteligência e ações secretas, bem como a prestação de contas de inteligência, que nosso sistema democrático exige. Agora mais do que nunca, é imperativo que as universidades sejam inteligentes em relação aos estudos de inteligência”.

Comentários:

1.    Essa necessária revisão dos cursos de Inteligência nos Estados Unidos da América, é motivada pelo crescente número de ataques terroristas, quer nos EUA, Europa, além de guerras, como na Síria;

2.    Se é necessária uma revisão nos cursos de Inteligência nos Estados Unidos, o que dizer dos cursos de Inteligência no Brasil? Esses diferentes nomes de Inteligência: Inteligência Competitiva, Inteligência de Mercado, Inteligência Comercial, Inteligência Estratégica, entre outros.

3.    Se perguntares a um profissional de Inteligência brasileiro as seguintes questões: o que é Inteligência, o que se faz, como se desenvolveu a Inteligência no Brasil e quais são suas limitações, ele/ela saberá responder?

Fonte: Nicholas Dujmovic é um professor assistente de visita da política na universidade católica da América em D.C. e o diretor do programa da universidade em estudos de inteligência. Retirou-se da Agência Central de Inteligência em junho de 2016 com 26 anos do serviço como um oficial de inteligência bem como 14 anos no Guarda de Costa dos Estados Unidos.

[1] O Doutor Mark Lowenthal é autor e Professor Auxiliar na Escola Krieger de Artes e Ciências na Universidade Johns Hopkins em Washington, DC. [2] Lowenthal escreveu cinco livros e mais de 90 artigos ou estudos de inteligência e segurança nacional. O seu livro Intelligence: From Secrets to Policy tornou-se um texto universitário padrão.

Publicado em 7 de janeiro de 2017 por Alfredo Passos - CEO, Experienced Competitive Intelligence Executive, Atelier Brasil, SCIP Member, Futurist Keynote Speaker
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