domingo, 10 de março de 2019

Carnaval & Comunicação Estratégica, por Clynson Oliveira, PhD

Carnaval & Comunicação Estratégica – como tweets podem afetar a comunicação de governo


Marco Túlio Cícero (106 - 43 AC), foi eleito cônsul do Império Romano em 63 A.C. Conspiradores tramaram seu assassinato para derrubar a República Romana com apoio de tropas estrangeiras. Com muita inteligência, Cícero usou o poder da ¨pena¨. Ele escreveu 4 discursos, as Catilinárias, e por meio de sua retórica direta, aliada a manobras políticas e militares, expulsou os seus adversários e obteve a vitória.

Há quem diga que ele foi o precursor da moderna utilização política das redes sociais. Cícero usava escravos e escribas para ouvir seus ditados e redigir mensagens em rolos de papiro, que eram distribuídas à sua rede de contatos e influência.

Depois de Cícero; Lênin, Trotski, Goebbels, Mao Tse Tung, Fidel Castro, Chavez, Lula e Maduro se utilizaram do subsídio estatal generoso e/ou da estatização de veículos de mídia convencional, sejam jornais, rádio, TV ou internet para propagar suas ideias e ideologias com o objetivo de ¨padronizar a narrativa¨, ou seja, com o objetivo de que todos repetissem o discurso oficial do governo, sem criticar ou pensar livremente. Essa era a dinâmica da comunicação estratégica no Séc XX.

Podemos definir a comunicação estratégica empresarial como sendo a ¨arte de propagar ideias, conceitos, processos ou dados para atingir um objetivo permanente ou de longo prazo de uma organização, por meio de atividades planejadas e coordenadas¨.

Em termos governamentais, pode se definir como sendo: ¨o esforços concentrados de uma nação para compreender e envolver os públicos-chave, a fim de criar, fortalecer ou preservar as condições favoráveis para o avanço dos interesses, das políticas e dos objetivos de uma Nação.¨

Uma comunicação estratégica efetiva deve atender às seguintes condições:

- Ter bem definidos os objetivos nacionais que balizarão todas ações de todo o Poder Executivo Federal;

- Sincronizar as narrativas em todas as esferas do Governo Federal;

- Estabelecer a ¨governança institucional¨ no quesito unicidade de discurso;

- Acompanhar as atividades prometidas em campanha, com o cumprimento dos planos em curso, garantindo a que a disseminação do cumprimento de ambos esteja coerente com os anseios e as necessidades da população; e

- Ter agilidade na assessoria de imprensa em identificar, processar e promover a gestão das crises de imagem que se apresentem, por meio da sincronização da disseminação das mensagens nas oportunidades mais vantajosas.

Portanto, uma comunicação estratégica eficiente deve ter o teor de suas mensagens, atos e ações, compreendidos pelo receptor sem que haja ruídos ou interpretações equivocadas. É necessário garantir que as ações decorrentes dessa comunicação, por parte de todos os envolvidos, sejam concorrentes para o mesmo objetivo traçado pela organização.

A Comunicação Estratégica Brasileira - 2019


Na contramão conceitual da comunicação estratégica, o que vemos hoje é uma vastidão de interpretações enviesadas da comunicação das autoridades do governo brasileiro.

Nos últimos dias, o excesso de explicações posteriores a mensagens emitidas nas redes pelas autoridades, leva a crer que as interpretações por parte da mídia e da população, dificilmente, são aquelas pretendidas pelo emissor. Então? Como garantir uma comunicação estratégica de governo eficiente?

A resposta pode ser encontrada observando-se dinâmica social de Marco Túlio Cícero, há mais de 2000 anos: a comunicação direta entre o decisor e a população, sem interpretadores intermediários. A possibilidade que as mídias sociais têm de colocar qualquer autoridade, ao vivo, com seus compatriotas, ao alcance da mão, ao alcance de um toque, é o que diferencia a comunicação estratégica do século XXI das demais estratégias de comunicação utilizadas em toda a história humana.

Todavia, para se obter o sucesso, o alinhamento de discurso de um governo precisa ser centralizado. São 20 ministérios responsáveis pela execução das ações em todas as expressões do Poder Nacional, seja nos campos psicossocial, econômico, científico-tecnológico, político ou militar. Cada uma dessas ações são independentes entre si, entretanto, todas concorrem para que sejam atingidos os objetivos do País.

A comunicação estratégica do governo pode ser realizada em dois grandes eixos: o das ¨ações como mensagem¨ e o das ¨pessoas como mensagem¨. A sincronização da divulgação das ações de governo é fundamental para uma eficiente comunicação estratégica.

Quando a ¨ação¨ é a mensagem, ela deve ser comunicada por meio de eventos e experiências, pautando o tema em todas as mídias e fechando o escopo da ideia a ser transmitida.

Como exemplo de sincronização de ¨ações como mensagem¨, selecionei duas realizações do governo federal, previstas para serem realizadas nos primeiros 100 dias de 2019 e efetivamente concluídas: a recuperação da BR 163, a cargo do Ministério da Infraestrutura e a realocação de 100% das quase 9000 vagas de médicos no Programa Mais Médicos, a cargo do Ministério da Saúde.

Se consideramos que o Objetivo Nacional permanente envolvido é o de ¨promover a Integração Nacional¨, as duas ações lhe são concorrentes. A primeira, a recuperação da BR 163, proporciona a otimização da ligação rodoviária entre o Centro-Oeste e o Norte do País, já o preenchimento das vagas de médicos, favorece a fixação da população no interior do País, por meio da otimização da capilaridade do Sistema Único de Saúde.

Contudo, apesar de ser um exemplo plausível de exploração por meio de comunicação estratégica, esta não ocorreu. A ineficiência do planejamento e da sincronização da divulgação de tais eventos e seus benefícios, aliados à incapacidade de pautar tais temas na mídia convencional e da assincronicidade das divulgações nas redes sociais dos ministérios, levou o governo federal a perder a oportunidade de explorar ao máximo esses sucessos dos 100 primeiros dias de governo.

Quando a ¨pessoa é a mensagem¨, em particular quando é autoridade máxima do País, o Presidente da República, ela tem a possibilidade de se comunicar diretamente, via mídias sociais, com cada um dos brasileiros, individualmente. A mensagem toca diretamente dentro do telefone celular de cada um, definitivamente, essa comunicação se torna poderosa e não pode ser descartada.

A imagem da pessoa deve refletir o conteúdo, tanto na forma como no significado, ou seja, o planejamento do teor da comunicação, do meio e da oportunidade para a sua veiculação são os fatores críticos de sucesso da comunicação estratégica.

No meio político a comunicação estratégica pode ser utilizada para atacar ou proteger. Quando em ataque, usa-se o negativismo e a ¨plantação da dúvida¨; quando em proteção, usa-se para tranquilizar, com positivismo e realizações prometidas e cumpridas, ou seja, passando credibilidade e eficiência.

As mídias sociais do Presidente da República do Brasil, em 2019, atingem diretamente mais de 10 milhões de pessoas, ou seja, se considerarmos que cada pessoa possui pelo menos 10 outras em seu círculo de influência, praticamente metade da população do País é atingida de forma direta e efetiva pelas palavras do Presidente, sem nenhum filtro da mídia ou de assessores.

Na verdade, a mídia tradicional perde diariamente espaço no controle da narrativa. Apesar da maioria da população ler apenas as manchetes das notícias, essas mesmas pessoas buscam em outras mídias, não convencionais, a confirmação, ou não, do que leu. A mídia tradicional é diariamente confrontada em relação à sua honestidade de propósito e firmeza de caráter e isenção.

Consequentemente, o impacto disso é a dissonância cognitiva causada na imagem mídia perante a população. As autoridades, como o Presidente da República, passam a ser muito mais vistos e visitados e passam a pautar o assuntos relevantes do País, restando à mídia convencional apoiar ou, o que tem sido a tônica desde o início de 2019, procurar pequenos deslizes em palavras para polemizar questões irrelevantes de interpretação, perdendo credibilidade e assinantes para as mídias alternativas e diminuindo o seu valor econômico e social.

Ou seja, a comunicação direta de ações de governo por meio de seus ministérios ou de autoridades ¨em pessoa¨ é uma arma fundamental no combate às interpretações errôneas da mensagem emitida, imprescindível para qualquer influenciador no mundo do século XXI. Desta forma evita-se os ruídos nas mensagens e garante-se que ela chegue sem manipulações ao seu destino final, a população.

Para exemplificar, cito a reflexão moral sobre um fato ¨escatológico¨ público sugerida pelo Presidente da República ao reencaminhar um vídeo em uma rede social, contendo atos obscenos cometidos por dois brasileiros durante uma apresentação de um Bloco de Carnaval em São Paulo. Eles realizaram necessidades fisiológicas ¨xixi¨ e ¨cocô¨, às vezes um em cima do outro, às vezes autopenetrando-se pelo ânus, tudo em público. Como analisar esse fato?

O Presidente ensejava que o povo refletisse sobre a moral e a ética do fato; na Lei brasileira, o fato é um crime capitulado no Art 233 do Código Penal: ¨praticar ato obsceno em lugar público, aberto ou exposto ao público¨; para os que realizaram o ato obsceno, nada mais foi do que um ¨ato político¨ de reação à ¨colonização dos seus corpos¨; para alguns integrantes mídia tradicional foi uma peça de ¨arte¨; para outros integrantes mídia tradicional foi quebra de decoro do Presidente, ao reproduzir o ato obsceno na internet; para alguns políticos é um real motivo para o impeachment do Presidente; para a população foi uma denúncia clara de crime e que tem que ser apurado rapidamente pelo Ministério Público Estadual. Qual a verdade?

Essa pergunta não está entre as mais relevantes a serem respondidas, sob a ótica da comunicação estratégica. As perguntas mais relevantes são:

O objetivo governamental pretendido pelo Presidente da República foi atingido? Quais os benefícios para a população e quais os atos governamentais seguintes que garantirão esses benefícios? Quais os benefícios obtidos para a agenda governamental?

Se tais perguntas não puderem ser respondidas, e se as condições para uma comunicação estratégica não estiverem estabelecidas, restará clara a sua ineficiência e uma eventual perda de oportunidade de apresentar resultados concretos à população.

O Brasil merece uma comunicação estratégica que informe a sua população de forma direta e que seja compatível com a posição que deseja ocupar no cenário internacional. A população deve ter o direito de criticar e conhecer livremente a verdade sem filtros, sem manipulação, sem discurso manipulado e padronizado na mídia tradicional.

O Brasil merece ser conhecido, internacionalmente, pela sua capacidade de crescer e demonstrar crescimento, fortalecido em todas as expressões do Poder Nacional.

Clynson Oliveira PhD, Army Col, mastered Politics and Strategy Army Command and Staff College. Now is CEO Leadership consulting in Brazil.
https://medium.com/@clynsonoliveira

MANGUEIRA, A VINGANÇA DO TRÁFICO! Por Gen Bonat

Acabou o carnaval. As escolas campeãs já são conhecidas. Maravilha! Lentamente, o Brasil sai da ressaca e começa a andar. Não assisti os desfiles. Não tenho mais paciência… Só vi pequenos pedaços mostrados em telejornais.

Em São Paulo, vi Jesus levar uma baita surra de satanás. Ficou por isso mesmo. Da CNBB, nenhuma palavra em sua defesa. Nossos bispos nem parecem cristãos. O assunto não é com eles. Será que Cristo realmente existiu? Quando lhes convém, nossos bispos permanecem quietos. Sua omissão tem sabor de concordância. Pobre, mas sempre esperta, igreja católica…

A mim me chocaram as cenas mostradas pela campeã carioca. A comissão de frente já revelava o que viria a seguir. Transformava algumas de nossas importantes figuras históricas em anãos.

Logo depois, Caxias era tratado como um carniceiro, provavelmente numa crítica à sua participação na Guerra do Paraguai. Convém relembrar, só de passagem, que naquele conflito morreram simplesmente cerca de sessenta mil brasileiros.

Pouco depois, em um dos carros, lia-se “ditadura assassina”, em alusão ao período dos presidentes militares. O alvo, obviamente, era o Exército.

Fiquei imaginando tratar-se de uma reação ao governo recém-empossado, até surgir na tela a figura da viúva de Marielle.

Caiu a minha ficha. Marielle defendia traficantes; as Forças Armadas foram mandadas a intervir no Rio em 2018, atrapalhando o milionário negócio do tráfico; e como o tráfico patrocina as escolas de samba… Eureka! Vinguemo-nos dos milicos!

E nada melhor do que um desfile de escola de samba para a vingança ser completa. É um crime perfeito. Afinal, trata-se de uma manifestação cultural. Ai de quem criticá-la. Quem não concordar terá contra si todos os intectualóides tupiniquins, toda a imprensa amestrada, todo o meio artístico, além da classe média carioca, cujos filhos dependem do fornecimento de crack, de cocaína, de maconha e de outros quetais.

Pensando bem, creio que a CNBB tem um pouco de razão…

Enquanto isso, os bombeiros continuam procurando corpos em Brumadinho. Mas deixa prá lá. Nossos heróis são outros.

Artigo: Hamilton Bonat, www.bonat.com.br

Toma lá, dá cá. Por ELIANE CANTANHÊDE



A proposta das Forças Armadas para a previdência dos militares é, na verdade, um pacote que tira de um lado (o da previdência) e põe no outro (nos soldos). A intenção é cobrar cota de sacrifício até de pensionistas, mas criando gratificações para os da ativa que fizerem cursos, como compensação para perdas acumuladas há décadas.

“Sempre perguntam se nós não vamos contribuir com a reforma. Mas nunca deixamos de contribuir”, diz o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva. Para ele, os militares são sempre os primeiros a sofrer cortes, “para o bem do País”, e acabaram com soldos muito defasados em relação à inflação e às carreiras de Estado. “Em relação ao Judiciário e ao Legislativo, nem se fala.”

O ministro entrega nesta semana a proposta dos militares à equipe econômica e à área jurídica do governo e estima levá-la ao Congresso até início de abril. Esse é um passo importante para esvaziar as desconfianças dos parlamentares, inclusive da base aliada, que resistem a privilégios para militares.

Azevedo e Silva foi pessoalmente à residência oficial do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, na quinta-feira passada, não só para antecipar a ideia geral da proposta para os militares como para falar das compensações: “Vamos subir a receita, mas também equilibrar melhor as despesas”, resumiu.

Maia pensa como o ministro Paulo Guedes e o secretário Rogério Marinho: os militares não podem aproveitar a reforma para compensar defasagens antigas. No mínimo, a conta tem de zerar. Pelo projeto, só vai zerar no quinto ano. Até lá, eles ficam no lucro.

Além de aumentar o tempo de contribuição dos militares, de 30 para 35 anos, a proposta prevê aumento da alíquota para todos, de 11% para 14%, com um detalhe: viúvas, cadetes e recrutas, hoje isentos, também passarão a contribuir com o mesmo porcentual.

Do outro lado, está a recuperação de uma das vantagens perdidas com a MP 2215, do final do governo FHC, mexendo nas gratificações pelos vários cursos que, sargentos ou oficiais, eles têm de fazer ao longo da carreira. Gratificação não tem impacto na previdência, aumento de salário teria. Está descartada a volta de auxílio-moradia, pensão para as filhas, ida para a reserva com um posto acima e licença especial.

Uma facilidade para aprovação do pacote militar, conforme enfatizou o próprio presidente Jair Bolsonaro, é que não precisa emenda constitucional, só projetos de lei. É fato, mas não exagera! Uma semana na Câmara e outra no Senado, só em sonho.

O grande esforço não só das Forças Armadas, mas da própria cúpula do governo – até porque as coisas se confundem – é martelar que os militares não estão incluídos no regime de previdência. Têm regime próprio e, aliás, estão fora das normas trabalhistas: não têm hora extra, adicional noturno, adicional de periculosidade.

Se elas tivessem esses benefícios, um tenente atuando na fronteira com a Venezuela ou nas enchentes na BR 163 (Cuiabá-Santarém) mais do que dobraria seu salário – que é mais baixo do que seus correspondentes civis no serviço público.

Uma terceira frente, além dos soldos e da previdência diferenciada, é o orçamento para as atividades-fim e os projetos estratégicos do Exército, Marinha e Aeronáutica que, como diz o ministro, “precisam de condições para sustentar a paz”.

Ter Bolsonaro, oito militares no topo do Executivo e mais de cem no segundo escalão é faca de dois gumes: é bem mais fácil para as três Forças defenderem seus pleitos no governo, mas gera desconfianças e confrontos fora dele. Principalmente quando se vende o militar como santo e o político como demônio. É melhor para o governo e para o presidente calibrar melhor o tom. A reforma passa e o Brasil ganha.

Proposta dos militares tira na Previdência e põe nos soldos. Guedes quer “conta zero”



O Estado de S. Paulo,10 Mar 2019
ELIANE CANTANHÊDE E-MAIL: ELIANE.CANTANHEDE@ESTADAO.COM 
TWITTER: @ECANTANHEDE ELIANE CANTANHÊDE 
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