quinta-feira, 19 de novembro de 2020

A majestade do Corona, por Frederico Otávio

 
    Como pode um ser tão pequeno causar tanto pânico e modificar a rotina do mundo inteiro?
    Como explicar o fenômeno corona vírus? Um ser microscópico, que se espalhou pelo mundo.
    A vida, assim como a conhecemos, é formada por contrastes. Noite, dia; frio, calor; grande, pequeno; mórbido, saudável, etc . . . Essa constante dicotomia nos faz compreender a amplitude da realidade que nos cerca. A necessidade em comparar um e outro nos faz compreender as razões da mãe Natureza, colocando em nosso caminho o auxílio da dor. Essa vilã que sempre flagelou a humanidade, ao lado do prazer, são os principais responsáveis pela manutenção da vida. Não fosse a dor, como estaríamos hoje? Pelo prazer, o ser se alimenta e se reproduz; pela dor, ele se protege.
    Até onde se sabe, a humanidade, desde seu início, convive com agressores provenientes do ambiente. O organismo do ser vivo, seja ele qual for, desenvolve proteções eficazes que garantem a manutenção da vida. São mecanismos que vão evoluindo aos poucos. As coisas vão acontecendo gradativamente porque, sabemos, a Natureza não dá saltos. Por outro lado, ela é sábia. A história mostra que toda convulsão social resulta em progresso coletivo. Não foi assim com as guerras, com os grandes cataclismos?
    Num momento grave pelo qual passa a humanidade, os pássaros continuam pousando nos galhos, trazendo alimento a seus filhotes, sem qualquer afetação. As flores continuam se abrindo, com o sorriso característico de sua generosidade.
Somente o ser humano está sendo atingido. O pânico e a incerteza tomam conta da humanidade. Haverá um motivo para tanto?
    Os contrastes humanos estão sendo exacerbados. Os solidários estão encontrando campo para exteriorizarem seus sentimentos, idealizando formas originais para ajudar o próximo; ao passo que os egoístas levam suas tendências ao máximo, mediante o esgotamento de recursos médicos de que não necessitam.
Certamente, no futuro, conheceremos atitudes heroicas que salvaram vidas, ao mesmo tempo em que golpes foram aplicados, explorando a fragilidade alheia. É como se uma lente viesse do mais Alto, ampliando as diferenças, separando o joio do trigo.
    Difícil imaginar um momento como este. Certamente ficará na história. Os dias em que o mundo se recolheu em suas casas. As famílias voltaram a conviver e a se conhecer; ou se descobrir. Radicais mudanças de hábito. Disciplina em todos os sentidos. Os idosos passaram a receber atenção e cuidados especiais, jamais antes vistos. Surgiram necessidades que dinheiro nenhum pode comprar. Ricos e pobres, poderosos e humildes, todos na mesma canoa. A máquina da economia desenfreada cedeu espaço ao recolhimento e à introspecção. Uma boa hora para a humanidade repensar seus procedimentos e valores.
    A sociedade recebeu um forte solavanco que a retirou de sua zona de conforto.
Não somente na ciência, que procura freneticamente por uma vacina contra o COVID-19, conceitos estão sendo revistos e postos à prova em todas as áreas do conhecimento. Sob certos aspectos, a Natureza que vem sendo frequentemente, imprudentemente, impunemente agredida, aplica alguns golpes em resposta. Até a fé está sendo testada. Em muitos, já está abalada. Todavia, não é o fim do mundo.
    Sinceramente acredito que, a despeito de todos os prognósticos tormentosos, o ser humano, filho de Deus, contraria o curso dos fatos e, desafiando o perigo, ainda que cauteloso, prossegue em seu caminho, sobrevivendo e aprendendo. Quando esse tormento passar, restarão dores e ensinamentos. A sociedade não será a mesma. A competição do século passado cederá a vez para outros comportamentos, tais como o compartilhamento, a tolerância, o respeito e a solidariedade. Uma nova era se descortina.
    Pudesse eu escolher, não haveria vírus. No entanto, não sou sábio e sequer tenho esse poder. Visto ser fato consumado, que os flagelados pela dor e pelo óbito me perdoem, mas no fim das contas, o saldo a favor do ser humano será muito positivo. Só me resta reconhecer a majestosa grandeza desse minúsculo organismo, que se multiplicou para trazer novas lições àqueles que se intitulam humanos e senhores do planeta, mas que tratam a Natureza e seus semelhantes com tão pouca humanidade. Obrigado corona vírus, pelo bem que está fazendo ao mundo!
Frederico, o Otávio.*

Publicado originalmente no FaceBook do autor, em 20 de março de 2020.

* oficial do Exército, da reserva, cientista da eletrônica valvular e ensaísta político.