quinta-feira, 5 de março de 2015

O REI ESTÁ NU - Cel R1 Inf Joau

Após trabalhar por trinta e cinco anos, resolvi alisar os bancos universitários, mais uma vez, seguindo os ditames da humildade, a nos alertar que é sempre tempo de aprender. Minha experiência e o meu cérebro azeitado pelas inúmeras crises enfrentadas nas lutas da vida, transformaram-me em bom observador, aluno interessado, facilitando a minha adaptação ao convívio diário com a adolescência, cuja experiência é rejuvenescedora. A faculdade tem me feito refletir acerca do ser humano. Tenho conhecido jovens que teria orgulho de que fossem meus filhos, pela educação e o seu preparo intelectual.


Tenho, contudo, me defrontado com mediocridades e estultices tamanhas de alguns alunos, o que me traz à reflexão o que acontece no Brasil de hoje. Ao invés de assistirem às aulas, vão matar o tempo no Diretório Acadêmico, buscando realizar alianças e ocupar cargos nas eleições que anualmente se realizam. Eles nada fazem. Os professores e coordenadores têm receio de contestá-los, de lhes chamar a atenção, de lhes dar falta às classes, sob pena de serem demitidos, já que esses alunos representam o corpo discente e têm acesso livre à Reitoria, que os considera politicamente corretos. Eles são os patrulheiros do pensamento estudantil.


Em alguns anos, envergarão orgulhosos o tão sonhado diploma, farão fisionomia de intelectuais, mas a sua essência profissional é tão consistente quanto um saco plástico inflado. Essas criaturas não estão interessadas em ser bons profissionais no futuro porque no fundo conhecem as suas limitações, ou porque em verdade almejam outros propósitos. Assim, buscam estabelecer estratégias para escamotear a sua triste realidade como seres humanos não aclimatados à realidade da vida, acostumados a se reconhecerem recôndita e inconscientemente como “perdedores”.
Sob a égide de uma pretensa virtude que acalentam ter, mas que no fundo sabem que não a possui, criam bandeiras legítimas para serem reconhecidos e assim tentar mitigar a pobreza existente no seu conteúdo psíquico, residência de complexos de inferioridade e fortes esquemas de incapacidade. É assim que a mediocridade e a preguiça ganham fama.


Daqui a alguns anos essa realidade não irá mudar. Esses colegas, por só saberem fazer o que fazem no presente, estarão com as mesmas bandeiras democráticas da tal pretensa virtude, professando o que não praticam, querendo ganhar um lugar ao sol, praticando o costume de afirmar meias-verdades para obter destaque social. Não aprenderam nada e acreditam que a realização de suas vidas será a de levar vantagem sobre esses colegas que, com sua dedicação e com o seu compromisso de servir os humilham. Essa é a anatomia da maioria dos políticos de hoje, com as exceções que confirmam a assertiva. Brasília é a mãe-pátria dessa gente e se transformou em um balcão de negócios.


Os meus jovens colegas vão seguir os passos trilhados por essa galera de Brasília, que assaltou e assalta a República, utilizando-se do serviço público e da política; e que cometeram e cometem diariamente o crime de lesa-pátria, quando vilipendiam e aviltam instituições com o único propósito de se perpetuarem no poder. Vociferam palavras de ordem acerca de justiça social, para, em um segundo momento se recolher nos feriadões em seus condomínios fechados e banhados por mar calmo, no qual navegam languidamente em caiaques e pranchas de stand up paddle.


Testemunho diariamente o sacrifício dos meus distintos professores universitários, que passaram a vida dedicando-se aos estudos, por horas e noites a fio, para comandar uma sala de aula de cerca de quarenta alunos, e, ao mesmo tempo, vejo medíocres e irresponsáveis sem qualificação ética alguma, assaltando os cofres públicos, construindo literalmente piscinas de dinheiro. Nessas horas sinto uma imensa tristeza quanto ao futuro do Brasil. Um país com o seu potencial sendo sistematicamente tragado por essa horda de bárbaros mal intencionados.
São esses infelizes que hoje resolvem irresponsavelmente dar ao cidadão comum com uma mão o bônus na conta da luz, a mobília, a casa própria, além de reduzir impostos, para com a outra mão ameaçar retirar esses benefícios, caso nós, reféns, saiamos do seu curral eleitoral, já que eles são os “mocinhos”, enquanto que seus opositores, por serem conservadores, por pensarem de forma diferente, são os fascistas, os cruéis, os “bandidos”.


Estão tão ensimesmados na sua saga de perpetuação no poder que esqueceram que na administração pública milagres não existem. A tão falada tempestade perfeita tem como ingrediente o não investimento em infraestrutura e os gastos demagógicos e popularescos. Não esqueçamos o que acontece hoje na Venezuela e seu governo esquizofrênico.
Ah! Mas, criar infraestrutura exige visão de futuro, estratégias bem delineadas e isso dá trabalho. Melhor é contratar marqueteiros. Assim, de forma arrogante e sem debate, nos mandam tirar o acento dos ditongos abertos nas paroxítonas e outros babados gramaticais; nos mandam trocar a tomada de dois pinos; resolvem “doar” dinheiro a nações-amigas (deles); recebem refugiados e terroristas de qualquer país de braços abertos; decidem quebrar o conceito secular de estado soberano, firmando acordos internacionais para a criação de uma América Latina sem fronteiras; e nos forçam a trocar o extintor de incêndio do carro, sem a avaliação, explicação e divulgação necessárias, tudo sob a égide da meia-verdade e da filosofia do politicamente correto. Somos surpreendidos diariamente com arbitrárias novidades.


O seu grau de narcisismo e perversão os impede de pensar comunitariamente. Estão tão preocupados com os seus próprios umbigos, com seu megalomaníaco projeto de poder, que não conseguem dirigir seus esforços para o bem-comum. Estão acomodados e seguem o bloco do “quanto pior melhor”. A usura dessas pessoas as impede de enxergar que:
- incendiar ônibus e explodir terminais bancários é terrorismo, e como tal, deve ser enquadrado em lei rigorosa;
- um país no qual 500.000 dos seus estudantes, em exame nacional, obtêm a nota zero, é um país onde a Educação fracassou;
- um país no qual o seu Poder Judiciário não pode escolher os seus próprios ministros da mais alta corte, joga por terra os princípios mais elementares do sistema de pesos e contra pesos preconizados por Montesquieu;
- um país no qual o sistema prisional deixa que os próprios internos realizem seus julgamentos, culminando com a degola do “réu”; onde criminosos festejam suas pobres alegrias despejando continuamente milhares de balas por cerca de um minuto sobre a alarmada cidade, está longe de ser signatário de qualquer acordo referente aos Direitos Humanos.
- um país no qual o Regime de Progressão da Pena em vigor contempla criminosos com a sua liberdade muito antes do tempo constante da sentença exarada pelo magistrado, faz com que o crime grasse de forma exponencial;
Tudo isso reflete o modus vivendi de uma sociedade que aprendeu com esses medíocres alunos de antanho que hoje conduzem o País, que os Direitos estão acima dos Deveres; que não é necessário plantar para poder colher; que “Deus é brasileiro” e no final vai dar tudo certo, entre outras asneiras.


Lamentavelmente, os movimentos sociais de junho de 2013, que emergiram no seio da sociedade, foram vencidos pelo conluio dos velhos alunos medíocres com esses novos a que eu me referi no início do texto, que intimidaram a Família brasileira com a sua sanha indomável, materializando nas bordunas e nos coquetéis molotov a rebeldia de suas almas atormentadas. E alguns inocentes úteis ainda foram questionar se era legal usar ou não usar máscaras... pasmem. Venceu a barbárie.


A sociedade que conheço, e que faz parte do meu mundo, é composta de gente trabalhadora de verdade, que sai de madrugada para ir ao labor e retorna à noite, cansada, mas com a consciência do dever cumprido. Essas pessoas de bem precisam abrir os olhos e atestar que “o rei está nu”, como registra a fábula, e valorizar vozes solitárias que nos representam como o nosso “Batman de Toga”, que se recolheu para o merecido descanso. Precisamos de outros exemplos. Contudo, são essas pessoas que essas vozes pequenas tentam desqualificar para que as suas chagas morais não apareçam.


Alguém tem que mostrar a esses criminosos que, como preconiza Galbraith, “governar com competência é ter que decidir entre o desagradável e o desastroso”, por isso mesmo é atividade para profissionais, aqueles que não faltavam aulas na universidade, e não para aproveitadores e oportunistas de plantão.
Felizmente, ainda existem no Brasil instituições saudáveis, como o Ministério Público, a Polícia Federal, a Imprensa e as Forças Armadas, que não podem ser contaminadas, sob pena do pêndulo dialético que rege o universo pender para a sombra do atraso civilizatório, como aconteceu na Idade Média e que acontece em algumas nações.


Para terminar esse desabafo, quero deixar a síntese do pensamento de um filósofo austríaco de nascimento chamado Karl Popper, que chamou de “paradoxo da tolerância”, como forma de estímulo aos homens de Bem do nosso pobre País, investidos de autoridade e espírito de mudança:
“Se os tolerantes forem tolerantes com os intolerantes, eles serão aniquilados, e com eles a tolerância”.
JOAU
recebido por e-mail do Ariel em 5 Mar 2015 - arielmartim@gmail.com

domingo, 1 de março de 2015

O texto ganhou mesmo a web - por Sheila Morello

Um ano, 52 semanas, 365 dias... 
Há exatamente um ano, eu não uso mais farda. Não faço mais o habitual coque, nem pinto as unhas de branquinho. 
Há um ano, não entro mais em forma embaixo de sol. Nem preciso ser superior ao tempo quando começa a chover. 
Para minha felicidade, há um ano não faço TAF (Treinamento Físico Militar). Corro só quando tenho vontade. Mas, para minha tristeza, também não faço TAT (Teste de Aptidão ao Tiro) e sinto muita falta dele. 
Há um ano, paquero de longe o PDC (Palácio Duque de Caxias, no RJ) quando passo em frente a ele. Isso acontece todos os dias, de segunda a sexta, de manhã e à noite.
Há um ano, não ando mais em viatura, mas continuo usando (e muito) jargões de miliquês. 
Há um ano, não participo de operações, nem de ações cívicas sociais, nem de solenidades militares.
Há um ano, não ouço o som do bumbo... Aquele que nos diz que devemos colocar o pé direito no chão, enquanto desfilamos. 
Há um ano, não presto continência, nem sou chamada de "senhora". Era tão estranho ser chamada de senhora aos 24 anos... 
Eu era uma menina quando ingressei nas fileiras do Exército Brasileiro. Não sabia nada da vida castrense. Não sabia nem que iria usar farda. De cara, odiei. Depois, me apaixonei. E a paixão virou amor, daqueles que nunca morrem. 
Durante o último ano, só tive coragem de voltar ao PDC uma vez. E derramei lágrimas sem fim com cada amigo que encontrava nos corredores. 
Talvez seja complicado para um civil entender. Mas ser militar é muito mais que ter um emprego. É ter uma família, uma segunda casa, lições de vida e amizades duradouras. É compartilhar valores, perrengues, missões, tradições. É multiplicar companheirismo, cumplicidade, camaradagem. É entender o significado literal de "servir". É superar limitações e se orgulhar muito disso. Só entende quem passa por isso. Aliás, só entende mesmo quem "vivencia" isso. 
Há um ano, eu me preparava para um dos dias mais emblemáticos da minha vida: o dia de deixar a caserna. Por mais que, desde 2006, eu soubesse que este dia chegaria e até tenha tentado me preparar para ele, confesso que não estava preparada. Doeu como se estivesse me despedindo de um grande amor. E estava.
Ainda atendo o telefone no ímpeto de dizer "Assessoria de Imprensa do Comando Militar do Leste". Ainda penso nas histórias do fim de semana que vou contar para as minhas companheiras. Ainda lembro e celebro as datas festivas do calendário do Exército. Ainda conto as experiências vividas, como se tivessem acontecido na semana passada. Ainda lembro da formatura mensal e revivo na memória, com lágrimas nos olhos, a última vez que entrei em forma no Dia da Bandeira de 2013. Por mais incrível que possa parecer (milicos entenderão), minha família também lembra e revive muitas coisas comigo. 
Ah! Como sinto saudades... Saudade daquela camaradagem. Saudade das missões. Saudade de me arrepiar em forma, ao som da Canção do Expedicionário. Saudade da minha farda. Saudade de ser a Tenente Sheila. Não pela patente, pois quem me conhece, sabe que nunca me vali dela, mas pelo orgulho de ser uma Oficial do Exército Brasileiro. Continuo sendo uma Oficial do nosso glorioso EcoBravo, mas agora componho a reserva atenta e forte. Saudades...
O tempo passou tão rápido e eu agradeço a Deus TODOS OS DIAS pela manifestação da graça superabundante Dele em minha vida. Pelos novos desafios que Ele me tem dado, pelos novos aprendizados, pelas oportunidades e conquistas diárias. Sou muito feliz pela oportunidade ímpar que estou vivendo hoje. Tenho muito orgulho de fazer parte de um projeto tão expressivo para o nosso país. Peço a Deus que me abençoe e me capacite para que eu possa somar e dar sempre o melhor de mim no meu trabalho. 
Contudo, saudade é algo que não controlamos. Às vezes, nem ao menos sabemos explicá-la direito. Mas, na minha opinião, saudade é a confirmação de que algo que vivenciamos valeu a pena. Integrar o Exército valeu muito a pena. Foi muito mais que uma experiência de emprego, foi uma escola de vida, da qual - hoje - trago comigo os melhores ensinamentos. 
Ao Exército Brasileiro, minha continência, meu reconhecimento, meu eterno respeito, admiração e amor.
Brasil acima de tudo!
publicado no Facebook em 1º Mar 2015 e comentou na sua pág: "Só posso agradecer a Deus pela oportunidade que Ele me deu de ingressar no Exército e por ver meu texto repercutindo deste jeito. Não sou a única a sentir saudades do bumbo no pé direito, dos toques de corneta, das missões... Delícia receber tantas mensagens lindas!!! 
Obrigada mesmo, de coração!!!" Sheila Morello, oficial da reserva